O argumento principal dos defensores dos cigarros eletrônicos ou vapes é: faz menos mal que o cigarro. Especialistas têm ressalvas com relação à afirmativa. De fato, o dispositivo não possui as 4.700 substâncias presentes no cigarro comum e tem o bônus de não precisar da combustão, processo que libera além de fuligem CO e CO2, para o uso. Porém, o pouco tempo do produto no mercado não permitiu que pesquisas conclusivas sobre os riscos fossem realizadas. Como no Brasil objeto não é legalizado, usuários vaporam em equipamentos contrabandeados, com substâncias às vezes desconhecidas.
A pneumologista do Hospital Universitário Walter Cantídio Simone Fortaleza explica que um dos perigos é o aquecimento da cápsula que contém o líquido que é vaporado. Para tornar o conteúdo em vapor durante o uso, é necessário que haja um aquecimento elevado, podendo chegar a até 350 graus celsius. Nessa temperatura ocorrem transformações químicas que podem liberar substâncias prejudiciais e cancerígenas, como níquel, cromo, chumbo e estanho. Ela considera que os riscos são os mesmos do cigarro convencional, já que o vape tem na sua composição substâncias tóxicas e desconhecidas devido à ausência de estudos confiáveis.
Um dos principais riscos já comprovado em pesquisas é o de aumento de doenças cardiovasculares. Conforme estudo da Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, a taxa de ataques cardíacos entre os que fumam cigarros eletrônicos é 34% mais alta que entre os que não consomem estes produtos. Pesquisa também aponta que usuários de cigarros eletrônicos têm 25% mais chances de ter doenças coronárias e 55% mais de sofrer depressão ou ansiedade.
A presidente da regional Ceará da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Maria Tereza Sá Leitão Ramos Costa, destaca que a principal culpada é a nicotina. Ela aponta que a substância, além de induzir à dependência química, causa vasoconstrição das artérias, aumenta a frequência cardíaca, tem ação trombogênica, altera plaquetas, pode levar o paciente a AVC, infarto e, consequentemente, morte súbita. "Ele faz menos mal porque tem menos substância cancerígena, mas ele vicia tanto quanto o outro. O que causa problema no sistema cardiovascular é a nicotina", afirma.
Para a coordenadora do programa de controle de tabagismo do Hospital de Messejana, Penha Uchoa, não pode-se afirmar que o cigarro eletrônico faz menos mal que o tradicional. "Isso a gente não tem como provar, não existe evidência científica para essa afirmativa [fazer menos mal] até esse momento", pondera. Ela ainda chama atenção que, por o produto não ser legalizado no Brasil, não há uma fiscalização eficaz nem uma listagem de compostos presentes, o que pode ser perigoso.
A médica veterinária Angélica Vasconcelos, 30, conta que, quando começou a utilizar o cigarro eletrônico percebeu melhoras em sua saúde, principalmente na parte respiratória. "Eu comecei a criar gosto pelo vape quando fiquei gripada e comecei a ver que eu respirava melhor, como se tivesse um efeito expectorante, começava a soltar muita secreção", diz. Segundo ela, o vapor também ajuda em suas crises de rinite.
Ex-fumante de cigarros tradicionais, um usuário de vape que não quis se identificar relata que sua qualidade de vida melhorou quando fez a troca. "Meu fôlego voltou, paladar voltou, o olfato também. Volta tudinho. Eu tinha uma chiadeira no peito e acabou. Não vou dizer que é a coisa melhor do mundo porque ainda é um vício, mas melhorou", coloca. Ele comenta que por produzir ele mesmo o líquido que vapora, se sente mais seguro, por saber as substâncias presentes.(Heloísa Vasconcelos)