Não é tão incomum encontrar botos-cinza em pontos da orla fortalezense, como a Ponte dos Ingleses, o Porto do Mucuripe, o espigão da rua João Cordeiro e o Marina Park. Afinal, esses animais são residentes da costa cearense. Os mares que banham o Estado são moradia de diversos mamíferos marinhos, já tendo sido registrada a presença de 24 espécies de cetáceos como o golfinho. A biodiversidade é ameaçada por fatores próprios da intervenção humana, como a poluição e o risco de pesca.
A variedade presente nos mares cearenses inclui peixes-boi, botos-cinzas, jubartes, cachalotes e já houve registro até de uma orca. O boto-cinza é o cetáceo com maior índice de mortalidade no Estado, sendo registrados 500 animais encalhados nos últimos 24 anos. A população que habita a enseada do Mucuripe é uma das mais ameaçadas, com apenas 41 indivíduos, conforme a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). Espécie é considerada Patrimônio Natural de Fortaleza.
A bióloga Amanda Oliveira, estudiosa de mamíferos marinhos, aponta que a espécie encontrada no Ceará que sofre maior risco é o peixe-boi, presente hoje no Brasil apenas no Nordeste. Último levantamento da espécie, feito em 2013, contabilizou apenas 1.100 animais na extensão de 7.491 quilômetros do litoral nordestino. Um dos principais entraves é o encalhe de filhotes, comprometendo a perpetuação da espécie.
"Eles encalham porque eles se separaram das mães e eles não têm condições de nadar e se alimentar sozinhos", justifica. Isso ocorre com frequência porque a espécie costuma migrar para rios na hora de dar a luz. Devido ao assoreamento desses afluentes, muitas vezes o nível de água é muito baixo, evitando a ida do animal. Assim, o parto acaba ocorrendo no oceano, onde a presença de embarcações e perturbações no mar favorecem que mãe e filho se distanciem antes do tempo necessário.
Amanda explica que os peixes-boi mamam durante cerca de dois anos e em todo esse período aprendem com as mães como nadar e se alimentar sozinhos. A reprodução da espécie também é lenta, já que as gestações de peixe-boi duram 12 meses e raramente resultam em mais de um filhote. A bióloga elenca outros motivos que levam espécies marinhas a encalharem: risco de pesca, poluição, ingestão de plástico, óleo de embarcações que pode causar doenças.
Para o professor adjunto do departamento de biologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Vicente Faria, a preservação da biodiversidade marinha cearense é uma preocupação frequente e que tende a aumentar devido ao aumento de espécies consideradas ameaçadas. Ele esclarece que, para um animal ser considerado ameaçado são considerados critérios como número da população, queda de abundância e local de ocorrência.
Segundo ele, o Governo do Estado está elaborando, com UFC e Universidade Estadual do Ceará (Uece), um levantamento ainda inédito contendo informações de que espécies do Ceará estão correndo riscos de extinção. Ele destaca que trabalho de ONGs como a Aquasis ajuda para que a biodiversidade resista, apesar dos impactos humanos. "Ninguém sozinho consegue cuidar de todos os problemas. Se tivesse mais gente, estaríamos com nossa costa mais preservada", afirma.
Espécies costeiras ameaçadas no Ceará
Peixe-boi-marinho
Nome científico: Trichechus manatus
Nome comum: manati, manatim-das-caraíbas, manatim, manaí e vaca-marinha
Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)
Garajau-real
Nome comum: Trinta-réis-real
Nome científico: Thalasseus maximus
Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)
Tartaruga-de-pente
Nome científico: Eretmochelys imbricata
Nome comum: tartaruga-de-escamas, tartaruga-de-casco-vinho, tartaruga-legítima e tartaruga-verdadeira
Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)
Tartaruga-marinha-comum
Nome científico: Caretta caretta
Nomes comuns: tartaruga-amarela, tartaruga-cabeçuda, tartaruga-meio-pente ou tartaruga-mestiça
Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)
Tartaruga-oliva
Nome científico: Lepidochelys olivacea
Nomes comuns: tartaruga-olivacea e tartaruga-pequena
Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)
Tartaruga-de-couro
Nome científico: Dermochelys coriacea
Nomes comuns: tartaruga-gigante, tartaruga-de-cerro e tartaruga-de-quilha
Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)
Peixe-serra-de-dentes-pequenos
Nome científico: Pristis pectinata
Nome comum: espadarte
Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)
Já não ocorre no Ceará há décadas.
Mero
Nome científico: Epinephelus itajara
Nomes comuns: merote, bodete, badejão, mero-preto, canapu e canapuguaçu
Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)