De forma discreta, mas feliz, o neurocirurgião Eduardo Jucá dá notícias sobre as gêmeas cearenses Maria Ysadora e Maria Ysabelle, dois anos: "Elas estão muito bem do ponto de vista neurológico, ganhando aquisições neurológicas, quer dizer, se desenvolvendo". Uma delas, ele complementa, ainda enfrenta o final da cicatrização, "mas progredindo bem". A expectativa clínica é que sigam em frente, após a reabilitação (fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia).
Ysadora e Ysabelle nasceram siamesas craniópagas, ligadas pelo topo do crânio. Com cérebros independentes, dividiam a principal estrutura que recolhe o sangue cerebral. Em fevereiro, maio, agosto e outubro de 2018, venceram as cirurgias de separação física e reconstrução do crânio, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (São Paulo). O último procedimento, por exemplo, durou cerca de 20 horas e envolveu 30 profissionais.
"O sucesso da cirurgia foi muito significativo", reflete o neurocirurgião Ricardo Oliveira, que compôs a equipe. "Diz à medicina brasileira que, se nós trabalhássemos de maneira coordenada e as instituições nos ajudassem, teríamos uma medicina de altíssima qualidade, que atenderia nossa população com bastante êxito. É um caso pontual, mas que demonstra que podemos ir além do que fazemos hoje", une.
Ricardo lembra que a primeira cirurgia de craniópagos foi em 1952, em Chicago (EUA): um dos gêmeos sobreviveu 13 anos e o outro morreu no terceiro dia do pós-operatório. Estimam-se 70 casos semelhantes, no mundo; desses, 40 a 45 puderam ser operados e 20 a 25 são considerados bons resultados, relata o neurocirurgião. "E, no caso das gêmeas do Ceará, a recuperação delas foi, extremamente, acima da média. O resultado alcançado é algo inédito", sublinha.
À impressionante capacidade técnica da equipe, se junta a surpreendente capacidade humana de resiliência. "Se um cérebro unido, de duas crianças de dois anos, conseguiu se adaptar, imagina o nosso cérebro se adaptando a cada situação nova, dos desafios que enfrentamos na vida", extrai Eduardo Jucá, que abriu caminhos para a cirurgia das gêmeas cearenses, a partir de exames no Hospital Infantil Albert Sabin (Fortaleza).