Não obstante os resultados positivos no tratamento da obesidade e de comorbidades a ela associadas, parcela dos pacientes que realiza a cirurgia bariátrica recupera peso posteriormente. A taxa varia de 10% a 20%, conforme estudos internacionais, afirma Marcos Leão Vilas Boas, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
"As causas mais comuns são o alcoolismo e distúrbios de ansiedade, é uma tendência internacional. Por isso o tratamento da obesidade precisa ser multidisciplinar. Desde o pré-operatório até o pós-operatório, (o paciente) precisa de psicólogo, nutricionista, endocrinologista", menciona Fernando Siqueira, chefe do departamento de cirurgia, coordenador do serviço de cirurgia bariátrica do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC).
Marcos Leão explica que é considerado "normal" leve a moderado ganho de peso ao longo dos anos. "O paciente tende a perder peso no período de um a dois anos. Quando você analisa os resultados globais em 20 anos, a curva de peso perdido atinge 35% do peso inicial do paciente e depois tem a tendência de ganhar de 5% a 10%. Terminam com menos 25% do peso total", aponta.
O desenvolvimento de alcoolismo e de distúrbios de ansiedade em pacientes que fizeram a bariátrica, conforme especialistas, é psicológico e físico. Alcoolismo não controlado e transtorno psiquiátrico grave não tratado são, inclusive, contra-indicações para o procedimento. Virginia Serpa, coordenadora da Linha de Cuidado em Obesidade do HUWC, explica que obesidade grau 3 é associada a transtornos psiquiátricos, principalmente depressão, ansiedade e compulsão alimentar. "Pacientes submetidos a bariátrica têm um aumento de 6,5% de risco de problemas relacionados a álcool. Cerca de 8% dos pacientes submetidos a bariátrica têm uso abusivo de álcool", aponta a psicóloga.
Ela frisa que alguns pacientes substituem o excesso do alimento pela bebida. "Como não consegue comer e beber junto, porque não cabe, bebe de estômago vazio. O álcool pega mais rápido ainda. O metabolismo do corpo na absorção do álcool após a cirurgia fica mais rápido. O álcool também gera reganho de peso porque é hipercalórico. Piora sintomas de depressão e ansiedade. Se sente mal e usa o álcool para se sentir melhor, é um ciclo", relaciona.
Ana Flávia Torquato, endocrinologista responsável pelo Ambulatório de Obesidade do HUWC e professora da Unichristus, detalha que o álcool é absorvido mais rapidamente em pessoas que fizeram a bariátrica. "Elas atingem mais rápido o pico de concentração na corrente sanguínea por isso ocorre um aumento da incidência de abuso de álcool com a cirurgia. O paciente tem que estar pelo menos há seis meses sem ingerir álcool", explica. (Ana Rute Ramires)