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Troca de conhecimento

| Intercâmbio | Dois cientistas do Museu Nacional estão coordenando o restauro da coleção Dias da Rocha
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Serpente  (família Colubridae)
 (Foto: Eddie Consorte Jr.)
Foto: Eddie Consorte Jr. Serpente (família Colubridae)

Até novembro deste ano, o Museu de História Natural do Ceará (MHNC) abrirá as portas ao público ou irá encontrá-lo fora de suas dependências no campus da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em Pacoti, no Maciço de Baturité. Uma exposição da coleção do acervo do naturalista cearense Francisco Dias da Rocha será o cartão de convite.

A previsão para abertura do MHNC, segundo a bióloga e responsável pelas ações de criação do novo equipamento cultural do Estado, Renata Stopiglia, coincide com o prazo para a conclusão dos trabalhos de restauração do acervo do pesquisador, que morreu em 1960 aos 91 anos.

Para que o restauro aconteça, explica Stopiglia, desde novembro do ano passado, dois cientistas formados pelo Museu Nacional estão em Fortaleza para recuperar peça por peça taxidermizada, há décadas, por Dias da Rocha. Uma bolsa de pesquisa, aprovada pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), trouxe o ornitólogo Marco Aurélio Crozariol e o mastozoólogo Aldo Caccavo de Araújo.

O acervo, doado pela família de Dias da Rocha ao Museu do Ceará e que há anos dormia numa reserva técnica por falta de verba para recuperá-lo e espaço para expô-lo, sairá das caixas e ganhará novo significado.

Stopiglia, que é pós-doutora em teoria da taxinomia pela Universidade de São Paulo/Museu de História Natural de Paris, conta que, inicialmente, é feito o diagnóstico das peças e elaboradas as estratégias de recuperação para cada uma delas.

O processo inicial irá gerar um Plano de Ação. Nele são registrados, com fotos, as peças e detalhamento do procedimento a ser adotado, para cada uma delas. Com as justificativas e definição de prioridades.

Os dois pós-doutores do Museus Nacional também determinarão as especialidades que devem ser agregadas ao projeto e estudos de materiais e técnicas que poderão ser desenvolvidos para se obter a melhor performance e, também, gerar conhecimento para formação de especialistas no Ceará.

"Depois daremos início ao restauro, propriamente dito, que é seguido de um inventário taxonômico das peças e indicação de novos estudo, caso encontremos algo que mereça aprofundamento. Neste sentido, aventamos até mesmo a possibilidade de estudos com DNA antigo para algumas determinações precisas sobre a biodiversidade representada pelo acervo", esclarece Renata Stopiglia. (Demitri Túlio/Isabel Costa)

 SOBRE O ASSUNTO

Ceará se prepara para a chegada de museu de história natural https://mais.opovo.com.br/jornal/dom/2019/10/26/ceara-se-prepara-para-a-chegada-de-museu-de-historia-natural.html

Acervo de Notícias Antigas do O POVO - https://www20.opovo.com.br/acervo/

Reserva

O acervo doado pela família de Dias da Rocha ao Museu do Ceará estava há anos em uma reserva técnica por falta de verba para recuperá-lo e espaço para expô-lo.

 

Aves mortas na serra são taxidermizadas

Além da herança deixada por Francisco Dias da Rocha, o acervo do ornitólogo Roberto Otoch fará parte da primeira coleção do Museu de Ciência Natural do Ceará (MCNC).

São cerca de 200 peças compostas por insetos e pássaros coletados por Otoch, principalmente, no Maciço de Baturité. Segundo Renata Stopiglia, coordenadora do MCNC, são aves mortas após choques com janelas e paredes de vidros de casas de veraneio.

O uso do vidro nas edificações da serra, segundo a pesquisadora, era para ser proibido. "Roberto (Otoch) está lá há muitos anos e as pessoas recolhem as aves e levam pra ele. Também tem bicho atropelado e outras situações que o ele recebe e faz a taxidermia".

Com o incêndio do Museu Nacional, em 2018, dezenas de pesquisadores ficaram sem acervos para trabalhar. A partir daí, foi criado o Projeto Museu Nacional Vivo que disponibiliza cientistas para levar expertise para outras instituições no Brasil. Caso do MCNC.

Cientista

Francisco Dias da Rocha nasceu em Fortaleza, em 23/8/1869 e faleceu em 22/7/1960.

Os mecanismos empregados pelo naturalista cearense tinham correta metodologia científica para preparação e conservação dos exemplares. Algumas técnicas continuam vigentes até hoje.

Ele mantinha correspondência com centros científicos nacionais e estrangeiros, graças à fluência em inglês e em francês.

Dias da Rocha também realizou muitas publicações - e, para isso, utilizava os próprios recursos. Uma das principais era o "Boletim do Muzeu Rocha".

Em 1916, ele participou da fundação da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará - onde também foi professor.

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