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Aspectos socioculturais constroem tabus
Ciência e Saúde

Aspectos socioculturais constroem tabus

Masturbação e clitóris estão entre os aspectos das vidas das mulheres que foram cerceados. Para especialista, abordagens positivas e respeitosas da sexualidade são o caminho a seguir
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O comportamento sexual sempre foi tema controverso na história da humanidade e frequentemente cercado de interdições. As atitudes em relação à sexualidade são ora mais liberais, ora mais proibitivas segundo o contexto social, econômico, cultural, religioso e ideológico que prevalece. Assim, estruturam-se tabus que influenciam na reprodução cultural do desconhecimento sobre a anatomia das mulheres e na própria sexualidade feminina.

Para a ginecologista Raquel Autran, o desenvolvimento sexual está enraizado em normas sociais e culturais que, por exemplo, estimulam os meninos aos desafios e ensejam a passividade nas meninas. Além disso, homens e mulheres amadurecem sexualmente de formas distintas, tanto do ponto de vista fisiológico como social. "Para os homens, o início da sexualidade pode iniciar um período de maior independência e oportunidades sociais. Para a mulher, ele pode ser visto como problemático, aumentando o controle sobre seus comportamentos por aqueles ao seu redor", explica a chefe da Divisão de Gestão do Cuidado da Meac.

"Na nossa cultura a dimensão do desejo feminino ainda é demonizada. As mulheres são frequentemente culpadas por desejarem", enfatiza Carolina Leão, psicanalista e professora de psicologia na Universidade Federal do Ceará (UFC). "Há uma grande exposição do corpo da mulher, um grande apelo à sexualidade feminina, mas é sobre a dimensão do desejo que vai recair uma certa sanção cultural e isso gera uma série de impedimentos para que as mulheres experimentem seus corpos de forma livre ou com menos interdições."

A médica Rayanne Pinheiro chama atenção para uma outra esfera, hoje sob ataques mais enfáticos: a educação sexual nas escolas. "Nós temos ainda precária orientação sexual nas escolas. Temos aulas, muitas vezes de biologia, nas quais se fala sobre gravidez, métodos contraceptivos e infecções sexualmente transmissíveis, mas se fala muito pouco sobre os órgãos sexuais", avalia. "Acabamos no desconhecimento sobre o nosso corpo por uma ausência da formação e da informação desde a adolescência, quando essa abordagem deveria acontecer, e que persiste na vida adulta."

Por isso, Raquel defende ser necessária "uma abordagem positiva e respeitosa da sexualidade, livre de discriminação e violência". "Há necessidade de educação sexual mais abrangente especialmente para os jovens, com informações precisas e objetivas. Deve-se estimular valores como consentimento e respeito mútuo, segurança e igualdade de responsabilidade", afirma.

Nesse movimento, a ginecologista Débora Britto percebe que "cada vez mais, pela possibilidade de falarmos mais abertamente sobre sexualidade e sobre igualdade de gênero, nós mulheres temos nos apropriado do poder de experienciar o prazer". "Isso é muito positivo tanto para nós mesmas quanto para a saúde das nossas relações!", comemora.

 

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