O cólera foi uma das doenças mais letais do século 19: matou cerca de 40 milhões de pessoas no mundo. A doença endêmica do delta do rio Ganges atingiu, por conta do avanço dos meios de transporte e do aumento do fluxo de pessoas e mercadorias, todos os continentes a partir de 1820. O momento foi também de adensamento populacional nos grandes centros urbanos e de consequente precarização das condições de moradia, alimentação e higiene. Causada pela bactéria Vibrio cholerae, a enfermidade se manifestou pela primeira vez no Brasil em 1855 e no Ceará em 1862. A província foi atingida do sul ao norte. Calcula-se que naquele ano teriam morrido entre 11 e 12 mil cearenses, cerca de 2% da população na época.
"Esses números são sempre difíceis de serem validados porque o registro estatístico durante uma crise epidêmica é algo difícil de ser feito, ainda mais no século XIX, quando era feito pelos párocos", explica Jucieldo Ferreira, professor da Universidade Federal do Cariri (UFCA) que estuda a epidemia de cólera deste período. Ele conta que Maranguape foi a localidade mais atingida em termos de quantidade de enfermos e de duração. Enquanto em alguns lugares a epidemia durou alguns meses, como no Icó ou no Crato, em Maranguape ela se estendeu de abril de 1862 até o início de 1863.
O cólera é endêmico em vários países e episodicamente ocorrem surtos onde a infra-estrutura de saneamento básico é inadequada ou inexistente. A infecção bacteriana se espalha quando há ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes ou vômito de uma pessoa infectada. Normalmente é leve e assintomática, mas pode ser grave, resultando em diarreia aquosa, vômito e câimbras nas pernas. O paciente rapidamente perde fluidos corporais, o que leva à desidratação e ao choque. Sem tratamento, pode levar à morte em algumas horas.