Fortaleza anda precisando de gozo. Retomar um pouco da leveza que havia. Não é voltar a ser o que era quando vivia menos à flor da pele com tanta ansiedade.
Apreensiva, nervosa... Não relaxa nem se permite ao desfrute por viver a se lamuriar ou se atolar em tretas nas chatas mídias sociais e nessa penitenciária chamada Facebook.
Fiquei admirado com um encontro na casa de um povo que recebe bem os da rua. Galeara, Eudes e Thais. Nenhum dos três, durante as quase três horas que passamos lá, usou o celular. Acho que essa família ainda goza mais do que se despedaça.
Conversamos, feito bestas, sobre coisas chatas e histórias frescas. E, curioso, mais rimos do que ficamos contando sobre quem havia sido o último assaltado de nós. Ou de alguém próximo que, por causa da falta de Estado, foi esquartejado ou desapareceu em alguma quebrada da periferia.
Falamos de assuntos que embrulham o estômago, mas atravessamos. E a vontade de voar foi mais potente. E entre os convidados não vi submissão ao Instagram, ao zap ou aos joguinhos que nos chupam, de maneira incomoda, a alma.
Sei que o amor maduro por Fortaleza tem suas delícias. É compreensivo, é sabedor do que se gosta e acolhedor até das manias um do outro. Mas sinto falta da Cidade brincante, da urbe dada a mais possibilidades. Mais disposta a trocar.
Talvez, nossos representantes no poder público não gozem como poderiam gozar e, assim, não conseguem estender o viço coletivo.
A Cidade, se a gente olhar mesmo, é cheia de sinais da falta de gozo. Não é possível que quem redesenhou o Castelão, somente para a Copa do Mundo, saiba o que é prazer compartilhado.
Um belo monstro arquitetônico que só tem serventia quando é dia de futebol. Fora isso é morto em seu derredor e deixa quem mora ali na mão.
Nenhuma árvore ao redor, nenhum beija-flor nas flores que nunca nascerão. Nenhuma possibilidade de alguém se entrançar com o outro.
É só asfalto depois que o jogo acaba. E apenas alguns, a maioria homens, conseguem gozar dentro do estádio.
Nos equipamentos públicos assim (deveria ser uma regra do urbanismo) o orgasmo, no bairro, teria de ser prioridade e uma constância.
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Da mesma pegada brochante é o Centro de Feiras e Eventos. À noite, nos dias da semana em que não há encontros pagos, é um lugar de anticlímax.
O Centro De Formação Olímpica é outra ilusão da arquitetura do prazer urbano. Obra chibata, no Castelão, mas tão envergonhada de não ter sido construída na Aldeota que não consegue ser potente para os bairros de suas biqueiras.
E o que dizer do Acquario Ceará? Um gozo ególatra desde o começo? Uma ejaculação precoce que não se dispõe a uma terapia? Um coito interrompido e a insistência numa relação que se arrasta atravessada.
Na última segunda-feira, o Centro Cultural Bom Jardim me deu prazeres. Vários gozos com o povo dali. Juntos e misturados com as ruas; com Ricon Sapiência; com os revolucionários do coletivo Sem Saída; com o instigante “Urubus” do Pavilhão da Magnólia e Cia Prisma de Arte... E com o tesão dos gestores do CCBJ.
Não tenho dúvida de meus amores por Fortaleza. “Estranho seria se eu não me apaixonasse por você”. Mas ando implorando seus carinhos ou, talvez, eu esteja um companheiro fuleragem...