Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Sem Pedro Parente no comando da Petrobras, o governo Michel Temer (MDB) caminha rapidamente para a bancarrota. Fosse uma empresa, estaria na iminência da insolvência. Mas é pior que isso. Desidratado, sem condições de negociar com o Congresso e agora sem seus principais fiadores junto ao mercado, o presidente definha.
E a saída de Parente é a prova de que o governo jogou a toalha. Acossado pela paralisação, o Planalto rifou o chefe da estatal, que se viu sozinho defendendo a política de preços dos combustíveis em meio ao fogo cruzado de aliados e adversários. Como efeito cascata, as ações da Petrobras despencaram na bolsa e as da BRF, empresa de alimentos que pode ser o novo destino do executivo, cresceram. Apenas ontem, a petroleira perdeu R$ 40 bilhões logo após o anúncio de que ele deixaria a empresa.
A consequência maior, porém, é política: Parente foi convertido em bode expiatório. Como lembrou Eliseu Padilha (Casa Civil) no auge da crise de desabastecimento, o presidente da Petrobras está submetido ao Governo Federal. Ali, o ministro dava a senha para a fritura que viria. [FOTO1]
QUE PETROBRAS SAI DA CRISE?
Há dois anos à frente da estatal, Parente era uma espécie de fiel da balança da política econômica do governo Temer. Dividia esse papel com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que deixou o governo para tentar se viabilizar como candidato à Presidência, mas até agora não tem conseguido decolar nas pesquisas – seu percentual nas sondagens é menor do que as projeções de crescimento do PIB para 2018. Com a saída de Parente e de Meirelles do “dream team”, o governo, além de extrema fragilidade política, está também manco.
Para a Petrobras, a desistência de Parente significa alto risco de uma guinada ao populismo econômico. Afinal, o executivo não caiu porque vinha atuando em descompasso com as diretrizes do Planalto. Caiu porque fez o que lhe ordenaram que fizesse. Em sua carta de despedida, o presidente expressa isso ao dizer que entregara o que lhe haviam pedido. E o que Temer pedira a Parente? Que recuperasse a Petrobras.
Resultado: não foi a economia que derrotou Parente. Foi a política. Foram os aliados do governo. Aí reside o perigo. Às vésperas das eleições, essa turma quer fazer populismo com a Petrobras. Fraco, o presidente não tem condições de se opor. Há 27 pedidos de impeachment repousando na gaveta de Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara.
Escrevendo sobre a crise dos caminhoneiros, Luís Fernando Veríssimo disse: “O Brasil alterou a famosa frase do Marx. Aqui, a história não se repete como farsa, as farsas se repetem como história”. Faz todo sentido.
SEM PEDIDO DE DESCULPAS
A carta de demissão do presidente da Petrobras não é um pedido de desculpas. Não se encontra nela uma única palavra que aponte para um reconhecimento de culpa por tudo que houve desde a explosão da greve dos caminheiros. O presidente deixa a Petrobras certo de que a política adotada para os preços dos combustíveis era a correta.
O que só revela as dificuldades de se estabelecer um modelo de gestão da estatal. Parente tratou a petroleira como coisa essencialmente privada. Maximizou seus ganhos sem se importar com a repercussão política de uma eventual subida de preços em ano eleitoral. Foi mais tecnocrata que político.
O SALDO DA GREVE
A paralisação dos caminhoneiros conseguiu o que movimentos de esquerda tentaram, sem obter sucesso: desestabilizar o governo. Mais que isso: desacreditá-lo, atingindo em cheio a espinha dorsal do governo Temer – a política econômica.
Mesmo em meio ao furacão que se seguiu às revelações dos irmãos Wesley e Joesley Batista no ano passado, havia entre os agentes do mercado a crença de que Temer poderia barrar eventuais denúncias na Câmara dos Deputados, o que acabou se mostrando uma aposta acertada. O presidente de fato bloqueou as duas acusações oferecidas pela Procuradoria-Geral da República. Para tanto, empenhou quase todo o seu capital político. Aos trancos e arrancos, sobreviveu.
A greve, porém, logrou dois êxitos: emplacou integralmente a pauta de reivindicações da categoria e, de quebra, ganhou de bandeja a cabeça do presidente da Petrobras.
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