As paralisações que os caminhoneiros encabeçaram nos últimos dias e que  tomaram conta dos noticiários locais e nacionais nos mostraram que a  imprensa precisa sempre aprender com os equívocos que comete.
Porque sempre haverá outros mais à frente. Independentemente, por ora, do posicionamento inicial político da greve, um movimento daquele tamanho merecia a cobertura jornalística que teve – assim como merece um olhar mais apurado das pautas dos grandes veículos de comunicação.
 Por dias, foi assunto dos mais comentados no País, por diversos motivos –  seja pelo impacto gerado à população, seja pela adesão ao movimento,  seja pela cobertura midiática. O certo é que a imprensa demorou a dar o  devido destaque à história, fazendo-o apenas quando a movimentação  causou um efeito direto no abastecimento e, consequentemente, no  consumo. A impressão que dá é que parecia algo inimaginável, sem  relevância suficiente a ponto de provocar essa falta no fornecimento dos  insumos. A imprensa em geral não trabalhava com essa hipótese? Nem os  especialistas, sempre atentos, chegaram a alertar os jornalistas?
 No fim de semana passado, a correria chegou aos postos de gasolina. 
O Ceará manteve-se em uma situação confortável, é verdade. Mas, pelo O POVO, os cearenses eram alarmados constantemente de que a gasolina poderia acabar em poucos dias. A tarja com o aviso “Urgente” era atualizada com frequência nas redes sociais – 90% dos postos estariam sem combustível no Ceará; metade desses, na Grande Fortaleza. Nos supermercados, a expectativa era de que alguns produtos começariam a faltar, o que acabou acontecendo, mas só dias depois. E nada de primeira necessidade.
Mais perguntas
 
 Qual é o limite entre a prestação da informação e as especulações em  torno das possíveis consequências das paralisações? A imprensa deve se  preocupar, é óbvio, em municiar o leitor de dados e notícias de  qualidade suficientes para que ele se sinta contemplado e satisfeito com  o material jornalístico que recebe. No entanto, não deve ser um agente  causador de pânico e terror em momentos sensíveis – situações que  envolvam segurança pública e saúde são típicas disso, por exemplo.
 Além disso, um aspecto ainda não tão esclarecido pela imprensa é o “quem  é quem na paralisação dos caminhoneiros”. Foi um movimento articulado  pela categoria dos trabalhadores com apoio dos empresários? Ou  vice-versa? Quem são os líderes do movimento? Mesmo em relação à  categoria, quem deve falar por ela? Os movimentos precisam definir seus  chefes, e os jornalistas devem conhecê-los.
 Na semana que passou, o leitor Paulo Roberto Clementino Queiroz, membro  do Conselho de Leitores do O POVO, questionou um posicionamento do  jornal, a partir de informação de colunas. “Desde o início da greve,  fala-se que o protagonismo da mesma não é, efetivamente, dos  caminhoneiros, mas dos empresários de transportes. No domingo, a coluna  do Elio Gaspari deixou isso muito claro. O que questiono é: por que o  jornal continua tratando o assunto como greve dos caminhoneiros se esses  profissionais são minoria se comparados com os empresários do setor?  Além disso, apesar de serem colunas, não há diferença entre opinião e  dado fático, como parece ser o caso? Por que não investigar?”
 É um ponto de partida o indicado pelo leitor, porém não avançamos muito.  Fizemos uma intensa cobertura factual, noticiando fechamentos e  aberturas de rodovias que cortam o Ceará, abastecimento e falta de  suprimento dos produtos, trânsito nas estradas, reivindicações,  transtornos, caos (sempre ele!) e medidas anunciadas pelo Governo. Não  aprofundamos, no entanto, acerca do que realmente os representantes que  mobilizaram as paralisações queriam ou dos desdobramentos práticos  atuais da movimentação. O que sobrou após a paralisação que mexeu com a  vida de milhões de brasileiros, mas que, incrivelmente, ganhou o apoio  popular? Como explicar trabalhadores pedindo intervenção militar ou  movimento grevista supostamente se articulando com outros setores?
 Dias após as paralisações terem sido encerradas, continuamos a ter mais questionamentos do que respostas.  					        
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