Logo O POVO+
Não ter um pau pra dar numa gata!
Foto de Tarcísio Matos
clique para exibir bio do colunista

Jornalista, compositor, escritor, humorista, cantor e pesquisador da cultura popular. Escreveu várias composições em parceria com Falcão. É autor do livro

Tarcísio Matos arte e cultura

Não ter um pau pra dar numa gata!


Tem quem naturalmente fale baixo, mas tem quem escute alto também. Aos que tudo ouvem com muita categoria, diga-se, esses têm "ouvido de tuberculoso". Pois eu tenho. Consegui, como se fora um sussurro, ouvir dona Mariquinha pronunciar oração forte e evitar que o netinho Galdino, de 8 meses, fosse atingido mortalmente pelo olhar de inveja da vizinha que nunca pariu na vida. Somente horas mais tarde eu soube que aquilo lá era reza federal contra quebranto; na ocasião achei estranho. E bota estranho nisso!

 

Afinal, contra quebrante e mau-olhado, aprendera com mãe aquela em que, colocando a destra na moleira dos mais novos, ela dizia assim:

 

"Nosso Senhor Jesus Cristo, me ajude onde ponho a mão.

 

Cristo vive, reina e impera por todos os séculos dos séculos.

 

Amém.

 

Pelo poder divino que tem, Nosso Senhor Jesus Cristo, este quebrante vai sair pelos lados, pelas costas, por cima, por trás e pela frente. Pela fé em Nosso Senhor, assim se fará: saindo pela frente, por cima, por trás, por baixo.

Amém."

 

Pra reforçar o poder da benzedura, mãe ainda lambia a testa do menino três vezes e rezava um Pai-Nosso, segurando as mãozinhas dele. Em seguida repetia três vezes as palavras:

 

"Deus te criou,

E eu, mãe, te pari;

Quebranto que te puseram,

Eu, mãe, lambi."

 

Mas a reza de dona Mariquinha para livrar o netinho Galdino, de 8 meses, era muito diferente. Tão eficiente, eficaz e efetiva que o pivete saiu dando pinote na sala, e a botadora da caé ficou muda por três dias. Por isso, não posso negar-me a reproduzi-la na íntegra, parte que é da crendice popular, muito usada no interior do estado:

 

- Cheire meu cuzim três vezes, cheire meu cuzim três vezes, cheire meu

 

cuzim três vezes!!!

 

O baião do Giovani Oliveira

Seu Paulo Solon, agricultor nascido em Pernambuco, tinha na época áurea da cultura algodoeira, em Iguatu, vários homens que para ele trabalhavam. E que se alimentavam. Todos, tão somente de "baião de dois" - no café da manhã, no almoço e no jantar. Os servidores de seu Solon já não aguentavam a ladainha "comidativa", e reclamavam de tanto "baião", à exceção de um deles, que comia caladinho seu prato.

 

O dito "baiãodedoisófilo", depois que a esposa deu à luz uma criança, benza Deus, corada, chamou o patrão e pediu-lhe que fosse o padrinho. Pedido aceito. Acontece que com a praga do bicudo devastando o algodão de toda região, seu Solon voltou de mala e cuia com a família para a terra natal, no interior pernambucano.

 

Certo dia, jogando sinuca e tomando cachaça com os amigos num bar de Iguatu, o acima mencionado trabalhador chegado à típica comida de cearense ouve o rádio anunciar:

 

- Senhoras e senhores, acaba de falecer, na cidade de Recife, "O Rei do Baião"...

 

O pobre iguatuense correu pra casa, tinha de urgente dar a notícia funesta à mulher. Lá chegando, em lágrimas, falou constrangido:

 

- Expedita, tu não sabe a tragédia que aconteceu! Cumpadi Paulo Solon morreu agorinha!

 

Foto do Tarcísio Matos

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?