Eduarda Talicy
eduardatalicy@opovo.com.brSubiu para cinco o número de casos notificados da “mialgia aguda a esclarecer” no Ceará, mais conhecida como doença da urina preta. Os pacientes foram notificados pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). De acordo com nota técnica divulgada nesta quinta-feira, 19, desde o último dia 5, foram notificados cinco casos suspeitos, sendo dois do sexo masculino e três do sexo feminino.
Dos pacientes analisados, três são do município de Fortaleza, um é de Salvador e outro é residente de São Paulo. Os primeiros três casos investigados foram divulgados pelo O POVO no último dia 12.
Segundo a Sesa, os pacientes apresentaram “dores musculares intensas de início súbito, acometendo principalmente a região cervical (relativas ao pescoço), membros inferiores e superiores, mudança na tonalidade da urina (variando entre vermelho escuro e castanho), elevações significativas nas dosagens da cretinofosfoquinase (enzima presente principalmente nos músculos e nos tecidos do coração e do cérebro) e os níveis hepáticos (TGO e TGP)”.
Ainda de acordo com o órgão, não houve relato de febre, dores de cabeça, nas articulações ou erupções na pele. Nos pacientes notificados, foi realizada coleta de amostras para diagnóstico laboratorial e diferencial (leptospirose, dengue e hepatite).
Há pouco mais de um mês, a doença começou a se espalhar a partir da Bahia, onde foram confirmados 52 casos. Lá, foram registradas duas mortes em pacientes que tiveram a doença.
“A doença está se caracterizando por um quadro súbito de dores musculares, associado às vezes a febre, eliminação de urina de cor escura. O que ainda existe é uma grande dúvida sobre a causa da doença”, afirma o infectologista Roberto da Justa.
As duas teses apontadas pelo médico são a ingestão da toxina de alguns peixes de água doce ou decorrente da infecção por um vírus, “chamado paraechovírus, que é um tipo de enterovírus”.
O médico explica ainda que a decorrência do escurecimento da urina se dá devido às lesões musculares. “A urina escura é decorrente do dano na musculatura e das células que são liberadas. Isso ocorre em todos os casos de lesão muscular aguda. É preciso ter cautela. Nem toda urina escura necessariamente é essa doença nova”, alerta.
No Ceará, as secretarias da Saúde do Estado e de Fortaleza estão monitorando a ocorrência e investigando todos os casos com o objetivo de esclarecer a causa desses sintomas, considerando o cenário epidemiológico e a similaridade com os casos notificados na Bahia.
Cuidados
Saiba mais
A “mialgia aguda a esclarecer” não é uma doença de notificação compulsória, no entanto, por se tratar de um evento de saúde pública inusitado, necessita ser notificado e monitorado com objetivo de se identificar o agente causador da doença.
Os registros da doença na Bahia, onde surgiram os primeiros casos, foram contabilizados desde o último dia 14 de dezembro.