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Grupo faz doações para moradores de rua do Centro
Cotidiano

Grupo faz doações para moradores de rua do Centro

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Bastou os carros estacionarem próximo à calçada de uma loja de material de construção, na avenida Tristão Gonçalves, no Centro, para uma fila se formar. As pessoas que fazem da calçada morada noturnas sacudiram — quem os tinham — os panos que as protegem do frio. Quase ninguém disse nada e nem era preciso: sabiam que o alimento havia chegado.

 

À frente da fila, três mesas foram colocadas: na primeira, 300 sanduíches de frango; na segunda, copos de suco e, na terceira, mais de 200 lençóis. “Hoje conseguimos os lençóis, o que foi uma grande graça. E, quanto mais temos ajuda, mais ficamos felizes”, festejava Maria Carolina Saker Pontes, 19, estudante de Direito. A jovem é a responsável, há dois anos, pelo projeto Amigos da Rua, iniciativa de distribuir comida para as pessoas que dormem nas praças do Centro. No início, o grupo contava com cerca de 30 pessoas. Com o tempo, foi ganhando corpo e hoje conta com mais de 100.


A casa que Gildo Cesário da Silva, 52, faz morada se desmonta a cada amanhecer, no passeio da avenida Tristão Gonçalves. Tudo que guarda nos 11 anos perambulando entre as esquinas cabe em duas sacolas plásticas e na roupa do corpo. “A nossa sorte é a caridade desse povo”, emociona-se.


Antônio Lisboa Mota, 53, lembra a primeira vez na rua: dia inteiro rodando nos terminais de ônibus, sem ter ideia para onde iria. “A gente só vale o que a gente tem”, resume. O grupo faz uma roda e é o Gildo quem puxa a oração. Agradece a Deus pela vida, “pela comida e pela oportunidade de poder receber e de poder comer sozinho”.


É no coração de Fortaleza que dezenas de pessoas fazem casa. A Praça do Ferreira é bem iluminada e apresenta certa segurança. É lá que Jossicléia Bezerra Rocha, 42, lê a Folha Universal, jornal da Igreja Universal do Reino de Deus, para ajudar a passar o tempo. Seis anos se passaram desde que ela saiu de casa, no bairro Moura Brasil, por brigas com os irmãos. “Tenho um filho de 15 anos, que nunca mais vi. Não sei nem se está vivo”, diz.


O problema é maior quando chove. Os cerca de 50 moradores da praça se espremem debaixo das sacadas das lojas. Fernando da Silva, 22, vive ali. Veio de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, “faz um bocado de tempo”, segundo diz. Eles diz que sonha com um emprego e uma vaga na Pousada Social, que estava lotada. “Perdi meus documentos e, para tirar, é muito caro. Entre dar 50 reais numa identidade e comer, o que você ia escolher?”.


O grupo pode ser encontrado na página Amigos da Rua, no Facebook. (Angélica Feitosa)

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