Os últimos militares cearenses que estavam em missão humanitária no Haiti foram recepcionados ontem em Fortaleza. Durante 13 anos, os chamados boinas azuis enfrentaram guerra civil, além de terremotos e furacões junto aos haitianos. Mais de 37,5 mil brasileiros foram enviados para apoiar as ações. Ao todo, a 10ª Região Militar (RM), sediada na Capital, participou com cerca de 300 homens, entre oficiais e praças.
As forças do Brasil chegaram em 2004. Elas atuavam com mais 15 países atendendo pedido do Conselho da Segurança das Nações Unidas (CSONU). O general Estevam Cals Theophilo, comandante da 10ª RM, explicou que a solicitação da entidade internacional é analisada em uma comissão interministerial e precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. “Analisam se é uma missão passível de ser cumprida, se atende aos interesses nacionais. Procuramos ir a lugares que tenham algo a ver conosco, como o Haiti. E procuramos evitar aqueles muito afastados”, disse o oficial.
A missão inicial dos brasileiros era restabelecer a ordem após a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide por forças insurgentes.
Imposição da paz
Segundo Theophilo, o desafio é criar uma estrutura que permita “impor a paz, usando a força na medida certa”, e neutralizar os grupos armados. Para isso, os primeiros anos dos militares na ação foram de confronto com os rebeldes. Contudo, as tensões diminuíram. O tenente Sizefredo Mota relatou que, quando chegou lá, em 2006, esperava encontrar ambiente de guerra. “Era uma situação de imposição de paz. Mas, assim que cheguei, vi um haitiano chorando ao se despedir de um sargento. Perguntei o motivo e ele disse que um amigo estava partindo”, contou.
Com a diminuição dos confrontos, os brasileiros passaram a reforçar as ações humanitárias. Em 2010, terremoto atingiu o Caribe e causou mais de 200 mil mortes — entre as vítimas, 18 militares brasileiros. No ano passado, o furacão Matthew causou inundações e deixou desabrigados. No restabelecimento da ordem após as duas situações, os boinas azuis trabalharam.
Tenente Sizefredo esteve novamente no Haiti em 2013, após o terremoto, e contou que percebeu diferença sete anos após a primeira visita. “Somos incapazes de olhar um haitiano e não oferecer ajuda. Acho que isso os fez se apegar tanto aos brasileiros, foi esse respeito à pessoa humana”, disse.
Números
37,5 mil militares do Brasil forma enviados para a missão no Haiti,
em 13 anos
Saiba mais
Haiti
Capital: Porto PríncipeLínguas: francês e crioulo haitiano
População: 9,9 milhõesIDH: 0,493 (163° no mundo)
Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti
Início: 1º/6/2004Fim: 15/10/2017
O envio de tropas aprovado pelo Conselho da Segurança das Nações Unidas (CSONU) tinha como missão: estabilizar o Haiti, pacificar e desarmar grupos guerrilheiros e rebeldes, promover eleições livres, fornecer alimentos para os haitianos e formar o desenvolvimento institucional e econômico do País.