Cerca de 130 km separam duas tragédias que assustaram e mancharam a história do Brasil em um curto período de pouco mais de três anos. Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, e Brumadinho (MG), no último dia 25 de janeiro, foram duramente afetadas pelo rompimento de barragens que lançaram milhões de metros cúbicos de rejeitos sobre os municípios mineiros. Por onde passou, a onda de lama deixou um rastro de destruição, que custou vidas e impactos socioambientais incalculáveis.
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Apesar de similares, cada tragédia provocou danos diferentes, e a recuperação destes pode se dar de maneiras também distintas. Em Brumadinho, por exemplo, por ser mais recente, as soluções ainda são estudadas uma vez que os próprios impactos estão sendo dimensionados. Para se ter noção, além das mais de 160 pessoas mortas, o Corpo de Bombeiros ainda faz a busca de desaparecidos após o rompimento da barragem de rejeitos na mina do Córrego do Feijão, controlada pela Vale S.A..
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os rejeitos de mineração devastaram 269,84 hectares de área, sendo 133,27 hectares de vegetação nativa de Mata Atlântica e 70,65 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APP), ao longo de cursos d'água atingidos pelos rejeitos de mineração. A análise de imagens de satélite foi realizada no trecho da barragem até a confluência com o rio Paraopeba. A área afetada pelos rejeitos nas margens do rio não foi estimada, de acordo com o Ibama.
Já em Mariana, decorridos três anos, vêm sendo, aos poucos, mitigados os impactos sofridos pela tsunami de lama que destruiu o distrito de Bento Rodrigues após o rompimento da Barragem de Fundão, da empresa Samarco, que é controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP. No desastre, 19 pessoas morreram com o vazamento de mais de 43 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que destruíram 1.479 hectares de vegetação, incluindo APP, e percorreram mais de 660 quilômetros de rios até chegarem ao Oceano Atlântico, no município de Linhares, no Espírito Santo, conforme parecer técnico do Ibama, divulgado em dezembro de 2015.
O professor Carlos Schaefer, do departamento de engenharia agrônoma da Universidade Federal de Viçosa (UFV), realiza pesquisa sobre as estratégias de recuperação ambiental do solo em áreas agrícolas atingidas em Mariana, e afirma que os resultados têm sido "satisfatórios". Em sua avaliação, ainda será necessário em torno de um ano e meio para a recuperação do trecho entre a barragem de Fundão e Candonga.
"Hoje em dia já tem mais de cinco mil hectares implantados, já recuperados, ou em processo de recuperação. Com o esforço e planejamento que a Fundação Renova está empreendendo, acredito que seja possível que todas as áreas estejam recuperadas. As áreas agrícolas! Os rios não", delimita Schaefer.
Conforme o pesquisador, optou-se, nestes trechos, por cobrir os rejeitos com solo da região, "através de uma forma criteriosa de corte e aterro", pois retirar a lama geraria impactos desnecessários. "As máquinas iam recobrindo a lama com o solo. Logo em seguida, ia sendo feito o preparo desse solo, a drenagem, correção com calcário, e a fertilização com o plantio", esclarece. A cobertura de 30 a 40 centímetros de novo solo se mostrou eficiente para o plantio novamente, assegura o pesquisador.