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Com o vazamento de rejeitos de barragens, saúde da população está ameaçada
Cotidiano

Com o vazamento de rejeitos de barragens, saúde da população está ameaçada

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Os desastres envolvendo rompimento de barragens de rejeitos de minério, como em Mariana e em Brumadinho, em Minas Gerais, trazem uma série de problemas e riscos à saúde. A população afetada enfrenta desde a falta de atendimento de atenção primária até problemas psicológicos anos após a tragédia. Estudos sobre as duas situações apontam para a necessidade não só de um apoio imediato às vítimas, mas um plano de ações para situações do tipo.

No recente caso de Brumadinho, um dos perigos se deve à destruição ou obstrução de vias que levam comunidades rurais à cidade depois do vazamento de cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos úmidos de minério de ferro que alcançaram toda a localidade de Córrego do Feijão. "É importante retomar o contato. Os agentes de saúde têm que se aproximar dessas pessoas que estão isoladas", alerta Christovam Barcellos, um dos coordenadores de estudo da Fiocruz sobre os impactos no município.

Segundo a pesquisa, o isolamento de comunidades e perda de condições de acesso a serviços de saúde podem agravar doenças crônicas já existentes na população afetada, bem como provocar novas situações de saúde deletérias, como doenças mentais (depressão e ansiedade), crises hipertensivas, doenças respiratórias, acidentes domésticos e surtos de doenças infecciosas, como a febre amarela e esquistossomose.

Outro problema é que a lama dos rejeitos se secará e pode gerar exposição a poeira rica em ferro e sílica que desencadeia processos alérgicos, principalmente cutâneos e respiratórios, como ocorrido em Barra Longa, município vizinho a Mariana, onde foi verificado um grande número de ocorrências de infecções respiratórias, cutâneas e conjuntivites na população, aponta o relatório divulgado no último dia 5.

Christovam também alerta que, devido a interrupção do abastecimento de água, existe a possibilidade dos moradores fazerem estocagem de água, o que, se feito de forma incorreta, pode gerar focos para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.

As doenças mentais decorrentes de grandes desastres ambientais podem ser sentidas alguns anos após o evento traumático, como observado em Mariana. O relatório da Pesquisa sobre a Saúde Mental das Famílias Atingidas pelo Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana (Prismma), produzido pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avaliou 271 pessoas, de 10 a 90 anos de idade, incluindo 46 adolescentes entre 10 e 18 anos.

Os entrevistados apresentaram um grave comprometimento da saúde mental, explica a médica psiquiatra Maila Castro, uma das coordenadoras da pesquisa. "Houve um aumento muito grande na prevalência do que a gente chama de transtornos mentais relacionados ao estresse, principalmente transtorno depressivo maior, transtorno de ansiedade generalizado, transtorno de estresse pós-traumático e um agravamento dos quadros de transtornos por uso de substâncias", explicita.

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