Um dos últimos prédios históricos ainda resistente ao tempo no Centro de Fortaleza será restaurado e transformado em um espaço cultural. Localizada na rua Sena Madureira, a casa 907, construída na virada do século XIX para o século XX, ainda preserva seu valor arquitetônico e estético com elementos ecléticos ainda evidentes.
O projeto de restauração do imóvel deve ser entregue em setembro deste ano e busca resgatar a cena cultural do centro histórico de Fortaleza. A iniciativa é do casal Pilar Jesus Rúbio, 54, empresária natural da cidade de Salamanca, na Espanha, mas que vive em Fortaleza desde 2011, e do escritor cearense Wanderlei Silva Lima, que são os atuais inquilinos do imóvel.
"Queremos restaurar a cultura. Aqui, podemos pegar um violão e começar a cantar, ou uma flauta e saxofone e tocarmos juntos. Nós queremos voltar um pouco para trás e resgatar a cultura de Fortaleza. Somos duas pessoas que estão apostando na cultura", disse Pilar, que está à frente do projeto de restauro.
A empresária ainda destaca que ela e o esposo passaram a apreciar o prédio há algum tempo, mas ficaram preocupados após a área externa da casa ser transformada em um estacionamento no ano passado.
O proprietário do imóvel, segundo Pilar, não foi localizado e a locação do espaço ocorreu por meio do empresário João Gurgel, que é responsável pelo estacionamento na área externa da casa. Agora, com a locação do imóvel, a empresária destaca o desejo de transformar a casa em um espaço cultural chamado NALAGE Centro Cultural.
No projeto, as principais atividades previstas para o prédio serão voltadas para a realização de saraus literários, lançamento de livros, exposições, encontro de músicos e compositores e eventos privados como serestas e tertúlias, mediante aluguel do espaço. Ao todo, o investimento do casal no projeto é de R$ 300 mil.
Ainda segundo Pilar, o projeto não pretende fazer alterações no espaço. Ao contrário, o objetivo é deixar o prédio como ele sempre foi, desde sua construção. Para isso, a empresária busca ajuda de historiadores, arquitetos e demais pessoas nas redes sociais que tenham fotos antigas da casa para auxiliar no projeto de restauro. O objetivo é identificar todos os tipos de materiais utilizados antes, como cores, pisos e madeiras.
A área construída da edificação possui cerca de 300 m². O espaço é composto por dois banheiros, cozinha, varanda, três salas e três quartos. O imóvel ainda conserva acabamentos em madeira, piso em ladrilho hidráulico característico da época da construção, pinturas na parede e portas com vidros.
Em maio de 2021, o arquiteto e presidente do Comitê de Patrimônio Cultural da UFC, Romeu Duarte, requisitou à Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor) um pedido de tombamento do imóvel a fim de preservar o local, que estava com risco de ser demolido. Para Duarte, a notícia da restauração do prédio é de grande importância para manter viva a história de Fortaleza.
Em nota, a Secultfor informou que o prédio não é tombado pela Prefeitura de Fortaleza, mas que há um pedido de tombamento provisório em andamento. Apesar do atual projeto para o local ser destinado apenas para restauração, sem um processo de tombamento em trâmite, não há impedimentos legais para que o imóvel seja demolido futuramente.
Ainda segundo a pasta, 50 bens estão em processo provisório para tombamento em Fortaleza. Desse total, 27 estão localizados no Centro da Capital, os demais estão localizados nos bairros Jacarecanga, Aldeota, Dionísio Torres, Parangaba, Damas, José Bonifácio, Montese, Moura Brasil, Mondubim, Barra do Ceará e Padre Andrade.