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Novos fluxos. Relações digitais invertem a lógica da intimidade
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Novos fluxos. Relações digitais invertem a lógica da intimidade

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No perfil do Facebook da pedagoga Leonara Rocha, 29, poucas são as publicações em que ela compartilha o cotidiano do filho Arthur, de um ano. Elas aparecem mais em datas consideradas especiais, como o aniversário. As fotos e os vídeos do menino são mais enviadas pelo WhatsApp para amigos mais próximos e familiares. Para a rede que abrange mais pessoas, ela escolhe conteúdos relacionados ao trabalho.


A discrição nas redes sociais é uma postura de Leonara desde o período do namoro: a de priorizar as situações fora da internet. Isso se intensificou com a chegada do filho. “Percebemos o quanto é desnecessária a exposição da imagem dele enquanto ele não possui ainda capacidade de escolher pela divulgação da sua imagem ou não”, comenta. Ela prefere deixar que o menino decida, no futuro, se vai querer ter a vida contada nas redes sociais.


O dever do adulto é preservar as crianças de informações que elas ainda não têm capacidade de gerenciar, explica Fábio Gomes de Souza, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e associado da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Dentre estas informações, ele aponta que pais e educadores estão na função de mediar a exposição a conteúdos perigosos e a valores que podem ser prejudiciais a crianças e adolescentes, como o consumismo e o narcisismo.


Para ele, a percepção da intimidade é invertida. Ele faz a comparação entre quem tem permissão para entrar na casa de cada um. Na vida analógica, os amigos mais próximos chegam ao quarto da pessoa, enquanto as demais são geralmente recebidas na sala. Nas redes sociais, é como se todos ganhassem acesso direto ao cômodo mais íntimo da pessoa. “As redes sociais são recentes, nem adultos nem crianças dispõem desta ‘arquitetura digital’ completa para saberem o que é apropriado ou não”, enfatiza.


Apesar de incertezas, a tecnologia e as redes sociais estão no cotidiano das famílias. Abolir o uso ou proibir o acesso não são opções interessantes, avalia Michelle Steiner, psicóloga e professora da UFC. Para ela, a principal estratégia é apostar em espaços de compartilhamento e de expressão dos sentimentos sobre o que acontece em rede. “O diálogo, a relação direta, ampla e incondicional entre pais e filhos é a melhor forma de contenção dos aspectos negativos do uso irrestrito e pouco consciente destas ferramentas virtuais”, defende. (Thaís Brito)

 

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