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Um dos principais momentos de instabilidade da Coroa Portuguesa nos tempos de Brasil Colônia completa dois séculos. Nesta segunda-feira, 6, a Revolução Pernambucana de 1817 chega a 200 anos. A revolta de caráter liberal e republicano tem peso histórico por ter sido a única em que, de fato, a família real portuguesa chegou a ter seu poder tomado. Mesmo que por um curto período de tempo e áreas restritas.
Embora o centro das ações tenha sido, como o nome da revolta sugere, em Pernambuco, o Ceará teve participação no processo. Mais especificamente o Cariri. Lá e naquela época, a família Alencar começava a expandir a influência política e econômica para além do nível local. Bárbara de Alencar, a matriarca do clã, e os filhos José Martiniano (pai do romancista José de Alencar) e Tristão Gonçalves foram os principais artífices locais da insurreição no Ceará.
Das quatro províncias em que houve revolta, o Ceará foi onde ela ocorreu de maneira mais discreta. Do dia que José Martiniano liderou a tomada da Câmara da Vila do Crato até o fim da “república” no Ceará foram apenas oito dias. Além do Crato, apenas a vila de Jardim — outro reduto de influência dos Alencar — foi tomada.
Os antecedentes que fizeram eclodir no Ceará a revolta são os mesmos das demais províncias em que ela ocorreu (Rio Grande do Norte e Paraíba, além de Pernambuco). A região Nordeste passava como um todo por uma crise econômica provocada pela seca dos anos 1816-17, o que impactou diretamente nas exportações de algodão e açúcar. Além disso, começou a ser despertado um sentimento de lusofobia pelo fato de portugueses ocuparem os principais cargos administrativos da região e da alta quantia de remessas enviadas ao Rio de Janeiro com a chegada da corte de dom João VI ao Brasil.
O fim da revolta no Ceará se deu pela própria falta de força do movimento. A família Alencar tinha poder restrito ao Cariri e não conseguiu arregimentar lideranças nessa e em outras regiões. Embora tenham contado inicialmente com o apoio de José Pereira Filgueiras, capitão-mor e amigo da família, esse mesmo se viu pressionado pelo governador Inácio Sampaio a reprimir rapidamente a insurreição.
Além disso, naquele mês de maio, as tropas de dom João VI já fechavam o cerco a Pernambuco, impondo-lhe derrotas em batalhas significativas, o que enfraquecia o movimento. Enquanto isso, o Rio Grande do Norte havia sido retomado pelas tropas reais em abril. Mesmo situação que ocorreria na Paraíba no dia 7 de maio.
Apesar do caráter discreto da Revolução Pernambucana em solo cearense, ela acabou tendo relevância à medida que a família Alencar passaria, a partir dali, a ter maior influência, mesmo com Bárbara, José Martiniano e Tristão tendo ficado presos e sendo, em seguida, anistiados. Era o primeiro momento de revolta deles contra a Coroa. Sete anos depois, estavam todos eles — inclusive Pereira Filgueiras — lutando contra o poder de dom Pedro I na Confederação do Equador.
Personagens da revolução no CE
Bárbara de Alencar
Matriarca da família Alencar, dona de terras e de prestígio no Cariri. Deu apoio inconteste aos filhos José Martiniano, Tristão Gonçalves e Carlos José dos Santos na instalação da Revolução no Ceará.
Inácio Sampaio
Governador da província do Ceará e fiel à Coroa portuguesa. Reprime com veemência qualquer tipo de ação de caráter republicana.
José Pereira Filgueiras
Era o capitão-mor responsável por acabar qualquer tipo de distúrbio social. Se mantém isento nos primeiros dias, mas é pressionado pelo governador Sampaio a acabar com a revolta. Vai insurgir contra dom Pedro I sete anos depois na Confederação do Equador.
José Martiniano de Alencar
Filho de Bárbara e pai do romancista José de Alencar, tinha apenas 22 anos em 1817. Trouxe do Seminário de Olinda as ideias iluministas e liberais que permearam a revolução.