No período em que se permitiram um convívio harmônico nos presídios e comunidades pelo Brasil, com impacto na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), as facções criminosas expandiram as áreas de atuação e se fortaleceram. Nas periferias e centros socioeducativos, criou-se entre os jovens processo de identificação com esses grupos, algo que antes se restringia aos presídios. No processo, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO, a cearense Guardiões do Estado (GDE) assumiu um protagonismo inesperado.
De acordo com fontes da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e do Ministério Público do Ceará (MPCE), durante a ruptura dos pactos, no início do ano, o crescimento da Guardiões foi impulsionado.
[SAIBAMAIS]Sem critérios estabelecidos para a admissão de membros, o grupo identificado pelos números 745, correspondente à ordem das letras da sigla no alfabeto (G=7, D=4, E=5), estaria se sobressaindo dos demais. “Justamente por esse descontrole e descentralização, além do perfil jovem, eles são mais audaciosos. O Estado não os intimida mais e o enfrentamento se dá de maneira cada vez mais aberta”, analisa um dos especialistas, que pediu para não ser identificado.
Titular da SSPDS, o secretário André Costa reconhece o crescimento da organização — a única “que surgiu a nível local” no Ceará, conforme ele. Mas frisa que outros estados enfrentam o mesmo problema. “Estive na Bahia, no encontro dos secretários, e tem uma facção que surgiu na Bahia. É a mais numerosa. Talvez pelo fato de ser do próprio local, ela consiga ter um número maior de pessoas”, destaca. A facção em questão é o Bonde do Maluco.
[QUOTE1]Costa diz que a SSPDS trabalha na identificação dos criminosos integrantes das facções.
Conforme O POVO publicou em abril, até então, a GDE se apresentava como terceira força nas unidades prisionais cearenses. Em contagens não oficiais, estimava-se que o bando teria pelo menos 600 filiados, longe dos 1.300 do PCC ou dos 1.100 do CV. Hoje, porém, a Guardiões estaria próximo de assumir “a ponta”.
Conflitos
A conjuntura, portanto, teria convergido na matança vista nas periferias de Fortaleza. Em um contexto de guerra, como forma de demonstração de força, aumentaram também os crimes bárbaros, como decapitação, carbonização e esquartejamento das vítimas. Punições determinadas em julgamentos dos “tribunais do crime”, realizados em locais como o descoberto pela Polícia Militar, no bairro Jangurussu, no último dia 26 de setembro.
“Essa situação é muito preocupante. É necessário um trabalho intenso de investigação. A área de Inteligência, tanto do Ministério Público, quanto da Polícia Civil, precisa ser mais estruturada e bem equipada”, defendeu uma fonte ouvida pelo O POVO. “A expectativa para 2018 é uma estabilização nos homicídios. Não terá mais para onde aumentar e a tendência é que uma das facções se consolide no poder e equilibre a balança”, completou outra fonte entrevistada.
Thiago Paiva
LEIA AMANHÃ
Nas Páginas Azuis, o ex-gestor da SSPDS, Servilho Paiva, fala pela primeira vez publicamente sobre a Segurança Pública no Ceará. Na coluna Segurança Pública, Ricardo Moura analisa o cenário.