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“Novo” é uma polissemia natural para definir a presidência de Juliano Medeiros no Psol. Aos 34 anos, o ex-dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e presidente de instituto de estudo e pesquisa do Psol, a Fundação Lauro Moura, compõe um quadro jovem à frente do partido que promete “renovação da esquerda”, como ele repete, em comparação com os seus antecessores – como Heloísa Helena, 55, e Ivan Valente, 71, e Luiz Araújo, 54.
Este último considerava que o Psol começava a ocupar “o espaço do PT”. Juliana, porém, evita ao máximo falar de PT e atrelar a atuação pessolista ao petismo, desafio que partidos de esquerda com menor espaço costumam enfrentar em críticas do outro polo do espectro político.
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Na visão de Juliano, há de se fazer “um balanço crítico” das esquerdas no Brasil, sem “atacar o presidente Lula”, ao mesmo tempo em que é preciso conciliar a intenção de “apontar os limites do lulismo” e de preservar a candidatura de Lula para 2018, defendendo “o direito dele de compor as eleições”.
Confira os principais trechos da entrevista com Juliano Medeiros.
OPOVO - O senhor é bem mais jovem que a média dos últimos presidentes nacionais do Psol. Como chegou ao cargo e o que isso representa?
Juliano Medeiros - Acho que tem a ver com a disposição do Psol de renovação também. Sou mais jovem, e a ideia também de rosto mais jovem é “para fora”, para mostrar que o Psol está disposto a participar do projeto de renovação da esquerda brasileira. O Psol já faz parte de uma nova geração de políticos do Brasil, e ele próprio pode estimular, a partir da candidatura do ano que vem, um processo, de renovação da esquerda.
OP- Está consolidada, então, intenção de candidatura própria à Presidência nas eleições de 2018?
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Juliano Medeiros - Nosso congresso decidiu, por unanimidade, lançar um nome. Temos um papel muito particular a cumprir como esquerda mais crítica e radical, que tem autoridade moral e política de apontar os limites do lulismo. Por ser essa esquerda com autoridade política e moral, só podemos fazer isso com candidatura própria. Não podemos apontar outra candidatura que não tenha essa disposição. A partir deste balanço, então, apresentar outras alternativas que possam levar uma candidatura de esquerda para o segundo turno. A gente acredita que é necessário que forças da esquerda brasileiras se disponham a fazer um processo de balanço crítico dos últimos anos, particularmente os que estiveram no governo federal. O Psol está disposto de fazer balanços de eventuais equívocos, mas estamos com a consciência tranquila por ter mantido nossa independência política com velhos partidos da burguesia, não fazemos aliança com partidos que promoveram o golpe, não concorremos a cargos ou ministérios no governo petista, nossa cota de responsabilidade é bem menor. Há outra proporção.
OP - O Guilherme Boulos, coordenador do MTST, é realmente o nome mais cotado para assumir essa missão?
Juliano Medeiros - Entre os nomes, há diálogo entre a direção do Psol e o companheiro Boulos, sendo muito franco e respeitoso na relação com o MTST. O Boulos é uma liderança política extraordinária, tem muita admiração pelo Psol, mas estamos cientes de suas responsabilidades sociais, e respeitando o tempo político do MTST e do Boulos. Há um diálogo em curso e há, sim, a disposição do Psol em discutir com ele uma possível candidatura, de apontar um programa alternativo para Brasil e promover uma reflexão sobre os limites que homogeneizaram a disputa.
OP - Boulos é muito próximo do PT e do ex-presidente Lula. Ele não traria o risco de uma candidatura “chapa branca” em relação ao PT?
Juliano Medeiros - Se o Guilherme decidir ser candidato pelo Psol, tem todas as condições de representar um programa de esquerdo alternativo que em nada se confunda com uma candidatura chapa branca.
OP - Mas há possibilidade de se apoiar Lula num segundo turno e, com isso, o risco de ser taxado novamente de partido “linha auxiliar petista”?
Juliano Medeiros - Vou te dar uma resposta padrão: é muito cedo para debater qualquer opção que não inclua o Psol no segundo turno. Seria uma indelicadeza com o debate interno. Vamos manter nossa independência política e analisar conforme a realidade. Não sabemos o que vai acontecer. Não faria nenhuma projeção ainda. Mas vamos analisar com muita responsabilidade. Temos defendido o direito dele de compor as eleições. O julgamento do presidente Lula tem que ser respondido pela população, ou seja, eleitoralmente. É inegável seu papel importante, mas não entendemos que o processo político que ele representa seja suficiente para enfrentar o Brasil.