Em uma das cenas de Extraordinário, o professor Browne (Daveed Diggs) aproxima Auggie (Jacob Tremblay) dos colegas para que ele seja incluído na fotografia da turma. Na vida real e escolar, a professora Ana Lúcia Farias também tenta mil maneiras de inclusão das crianças e dos adolescentes com deficiência, desde 2009. Ela ensina Língua Portuguesa em uma escola particular e, em uma escola pública, faz atendimento educacional especializado e trabalha na formação de professores para a área. Em uma sala de 35 a 40 anos, um ou dois têm deficiência; autistas e crianças com dislexia são os mais incluídos, percebe a professora.
Ana se tornou professora da educação especial ainda quando a inclusão não era obrigatória: as crianças eram apartadas em outras salas e não se falava em ensino diferenciado. Falava-se em socialização e não aprendizado. “De 2009 para 2010, o governo forçou a inclusão, não queria mais escolas com classes especiais. Muitos não conseguiram ficar na escola comum, abandonaram. A inclusão não acontecia de verdade”, conta. “Hoje é que se tem um olhar diferente para essas crianças”, segue.
Não bastam as leis que garantem a inclusão. A capacitação da escola, dos profissionais ao material, e a filosofia de cada escola também são fundamentais. É preciso “valorizar a pessoa do jeito que ela é”, aponta Ana Lúcia. Mas isso ainda não é realidade em muitas instituições de ensino.
Para a professora falta “imaginar como ele pode aprender, como ele percebe a aula. A gente precisa, principalmente, se colocar no lugar do outro”. Ana Lúcia soma: “Quando conheço meu aluno, meu comportamento fica diferente. Minha inclusão não fica só pela obrigação. Fica, realmente, porque acredito que ele tem que ser incluído”.
O conhecimento sobre o outro também diminui a distância entre o bullying e o cuidado. É importante que a escola prepare a turma para receber o colega com deficiências, como ilustra Extraordinário. Explique suas necessidades e ensine o respeito. É uma maneira de escrever cotidianos tão extraordinários como os do filme. E como estes, que a professora Ana Lúcia viveu há pouco: quando um de seus alunos autistas falou sobre si mesmo na sala de aula e quando outro, também autista, participou de uma dança coletiva na semana cultural. “Não é só participando da atividade, mas ver o carinho dos outros meninos de colocarem, de acreditarem que ele poderia fazer”, emociona-se.
AMCC
O FILME
Extraordinário (Wonder, 2017) é um filme norte-americano, dirigido por Stephen Chbosky e baseado no romance homônimo de R. J. Palacio. Julia Roberts, Owen Wilson e Jacob Tremblay emocionam os espectadores com a história de Auggie Pullman (Tremblay), um menino que nasceu com a Síndrome de Treacher Collins.
A Síndrome lhe causou sérias deformações faciais e deficiências funcionais, levando Auggie a passar por 27 cirurgias. Mas, para o garoto de dez anos que escondia o rosto e os sentimentos em um capacete de astronauta, ir à escola formal, pela primeira vez, representava o momento mais difícil da vida.
O filme conta a adaptação de Auggie ao convívio social, quando ele tem que enfrentar os olhares e as palavras de repulsa. E mostra também a perspectiva das outras pessoas mais próximas aos sentimentos do menino. A obra cinematográfica adapta o romance homônimo de R. J. Palacio, inspirado na Síndrome real.