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EM BUSCA DE DINÂMICA PARA O LEGADO DE SÉRVULO
Quem passar pelo viaduto que liga as avenidas Engenheiro Santana Júnior e Washington Soares nos próximos dias verá um acréscimo à paisagem.
Pulsação, obra em aço do cearense Sérvulo Esmeraldo, foi instalada no local na quinta-feira, 1º de fevereiro. A data marca um ano de morte do artista, nascido no Crato e reconhecido internacionalmente. A locação da obra integra as ações do Instituto Sérvulo Esmeraldo, órgão fundado por Dodora Guimarães, curadora e viúva de Sérvulo, após a morte do artista. Depois da cerimônia, na casa onde viveu com Sérvulo e onde está o ateliê, Dodora Guimarães conversou com O POVO.
O POVO: Você é guardiã do legado do Sérvulo?
Dodora Guimarães: Não. Eu me sinto com uma responsabilidade de dar uma dinâmica a esse legado que o Sérvulo deixou. Quando digo que não sou guardiã é porque na concepção a guardiã está guardando. Não estou fazendo isso. Quero trabalhar esse legado. Independente do Sérvulo ter algum compromisso de exposição ou uma encomenda de obra, independente disso, ele trabalhava todos os dias. E ele falava que tinha um compromisso com ele, que era diariamente acrescentar um ponto à história da arte. Ele tinha de dar essa contribuição. E, paralelamente, ele dizia: “Eu estou trabalhando para a herança de vocês. Se vocês souberem administrar, vai ser bom”. Não é que eu seja guardiã da obra. Eu me sinto na grande responsabilidade de tocá-la pra frente, de dinamizá-la, de torná-la conhecida, de torná-la viva. Não somente da obra, mas do pensamento e dos ideais do Sérvulo.
O POVO: E quais obras estão no radar do restauro?
Dodora: A obra que pertence ao Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, escultura-fonte de 1984; em aço inox, água, vento e luz; medindo 9m por 3m; paradeiro ignorado)! Eu quero me aplicar nessa. Preocupam-me as obras que foram destruídas. E também tem obras no Crato. Quero me ocupar delas, pois é a cidade onde ele nasceu e que ele amava.
O POVO: O que é difícil no processo de restauro?
Dodora: O desafio não é construir. O desafio é preservar. Além de serem reconstruídas ou de terem passado por um processo de conservação sério, no processo que estamos fazendo, as obras ganham paisagismo adequado, sinalização, totem com indicações da obra, e iluminação. Eu acredito que são medidas de prevenção. Se você vê a obra e ela está identificada, ela está protegida por um jardim, ela está iluminada, isso colabora para a preservação. Essa medida eu quero levar para todas as obras existentes na cidade. Seja em espaço público ou privados de uso público.
O POVO: E para os muitos artistas visuais novos…
Dodora: Ah! O mundo está passando por um momento de transformações. Você diz que nós temos muitos artistas. Temos muitos, mas quantos caminhos nós temos na arte? Não muitos caminhos, infelizmente. Não tivemos a capacidade de desenvolver um sistema de arte à altura da Capital - que é grande, em crescimento, com muito dinheiro, onde a cada seis meses tem prédios mais altos e arrojados. É uma cidade que na superfície é rica. E esse dinheiro todo em que beneficia a cultura cearense? É uma pergunta que a gente tem que fazer. Quantos cursos de arte nós temos? Quantas galerias participando ativamente do mercado? Para o artista desenvolver sua obra, ele tem que ter meios. Aqui nós temos artistas que tem talento, mas não têm meios para desenvolver o talento. O sistema da arte em Fortaleza é capenga. Não é só ter galerias. Teríamos que ter escolas de arte, museus. O mercado da arte envolve conhecimento, informação e participação.
Por Isabel Costa REPÓRTER