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Com ligações gratuitas, orelhões que funcionam são disputados no Centro
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Com ligações gratuitas, orelhões que funcionam são disputados no Centro

Na era dos smartphones, o uso dos orelhões não foi totalmente descartado da vida dos cearenses
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Na era dos smartphones, o uso dos orelhões não foi totalmente descartado da vida dos cearenses. A invenção brasileira, considerada um “ícone” do design, já completa mais de 45 anos e mantém-se viva seja como quebra-galho em situações de emergência ou até como opção rotineira de quem quer aproveitar a gratuidade de ligações para telefones fixos de todo o Brasil.


As chamadas locais e de longa distância nacional em telefones públicos não serão cobradas pelo menos até setembro deste ano. A gratuidade deve-se à determinação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para a concessionária Oi, responsável pelo serviço. A empresa descumpriu percentual mínimo de 90% dos orelhões em funcionamento nos estados.


Encontrar orelhões em boas condições de uso é, aliás, tarefa mais difícil do que deparar-se pessoas dispostas a usá-los, ao menos no Centro da Cidade. Na Praça do Ferreira, até filas são formadas, no fim da tarde, em frente aos telefones que funcionam, garante quem trabalha por ali.

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“O som desse aqui é muito baixo, é difícil de ouvir. Já aquele ali é uma beleza, mas não disca o número quatro”, adverte o ambulante Francisco José de Souza, que expõem à venda objetos antigos, bem em frente aos dois aparelhos. “O pessoal sempre usa aqui, o dia inteiro, e vem me perguntar se está prestando. É comum chegar gente aqui dizendo que já passou por vários orelhões que não prestam”, resume.


Durante a entrevista de poucos minutos, duas pessoas usaram os orelhões para ligações rápidas. Com celular descarregado, a moça explica que precisava resolver um assunto urgente. “De vez em quando, eles quebram o galho da gente”, diz, sem tempo pra se identificar.


Francisco fica ali boa parte do dia, mas conta que não aproveita o telefone público, prefere usar o aparelho celular. Mas há quem faça a opção contrária. É o caso de Fernando Nascimento, aposentado que leva os dias a flanar por Fortaleza. “Eu passo o dia andando e prefiro usar o orelhão porque não gasto nada. Todos os dias eu ligo para minha casa para dar notícias e, às vezes, também para uns familiares que moram em Caucaia, para conversar”, conta.


No bolso da calça, Fernando guarda um papel com os números de telefone para os quais costuma ligar. “É mais prático que o celular, que vive descarregado e eu também vivo perdendo”, explica. “Eu uso mais por costume e por economia também, mas não sou o único, não. Muita gente ainda usa aqui no Centro, eu vejo direto”, testemunha. Ao se despedir, ele lembra que no dia seguinte ligará novamente, talvez para o irmão que vive em São Paulo.


Quem também usa o orelhão quase diariamente é o estudante Alisson Carvalho, de 19 anos. Na contramão de sua geração, mais antenada no uso de smartphones, ele disse que prefere deixar o seu em casa. “Eu uso direto (orelhão), pra mim é muito comum, muito normal. Eu ligo pros meus amigos, pra combinar alguma coisa pra gente fazer, pra gente sair. Mas eu ligo a cobrar e eles retornam”, explicou.


Para celular, as ligações ainda não são gratuitas. De acordo com nota enviada pela Oi, “há uma programação a ser realizada na planta nacional de TUPs (Telefones de Uso Público) para que os orelhões da companhia possam atender a determinação da Anatel de realizar chamadas gratuitas para telefones móveis”.


Há também quem use o telefone público para trabalhar. Paulo Gomes da Silva, funcionário público, precisa fazer várias ligações por dia e aproveita para usar os orelhões quando está na rua.


“Eu alterno meu celular, meu telefone fixo em casa e o orelhão. Para mim, o mais descartável é o telefone móvel”, disse. “Eu só lamento o mau uso por parte da população, é difícil encontrar um que funcione. Os orelhões são importantes demais, não podem nunca deixar de existir. Comunicação hoje é essencial, né?”.  

 

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TELEFONES PÚBLICOS NO CEARÁ


De acordo com a Oi, há cerca de 35 mil telefones públicos no Ceará, 10 mil deles ficam em Fortaleza. Diariamente, os aparelhos sofrem danos por parte da população. Só no primeiro trimestre deste ano, foram danificados 15% dos orelhões do Estado, mais de 5 mil. Dos 640 mil orelhões da Oi localizados em todo o Brasil, cerca de 305 mil, quase a metade, não são utilizados.  

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