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Tensão social e luta negra marcam processo de abolição
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Tensão social e luta negra marcam processo de abolição

| SÉCULO RADICAL | Até a extinção da escravatura, o século 19 pelo movimento abolicionista, mas sobretudo pela resistência dos negros
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Foram muitos os processos que culminaram na chamada abolição da escravatura. Leis anteriores à determinação “de ouro”, movimentos sociais e greve de trabalhadores foram essenciais para o processo que adiantava a conservadora extinção dos escravos. Para além disso, personagens negros invisibilizados pelos brancos. A ação do Estado não foi o principal motor da libertação, mas consequência de uma luta anterior e sem volta. Além da pressão que o Brasil passa a sentir do outro lado do Atlântico.
[SAIBAMAIS] 

Em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz impedia a diáspora africana no Brasil. Duas décadas depois, filhos de escravizadas nascidos a partir de 28 de fevereiro de 1871 ficaram livres pela Lei do Ventre Livre.
 

O chefe do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisco José Pinheiro, explica que tais regulamentações eram tentativas de postergar a abolição da escravatura. Não à toa, o Ceará foi uma das províncias que mais exportaram escravos para o Sudeste, principalmente  nos anos que antecederam a Lei Áurea. 


Há uma evidente falta de memória ao período escravista na Capital cearense. Historiador e cientista social, Hilário Ferreira diz que a preocupação histórica, especificamente para a escravidão, é inexistente por parte dos gestores do Município e do Estado. “A problemática se amplia à medida que a gente se aprofunda na história”, diz.
 

Pesquisador da cultura negra, Ferreira observa que é preciso desconstruir a versão que concentra o protagonismo em abolicionistas jovens de classe média. Foram eles que, a partir de 1880, fundaram entidades que discutiram a política do tráfico e do trabalho forçado. Fora de Fortaleza, em Maranguape, distante 26,6 km de Capital. O Teatro São José, na Praia de Iracema, teria abrigado reuniões datadas a partir de 28 de setembro 1879.
 

Para além de reuniões entre ex-traficantes de negros e intelectuais, o movimento foi radicalizado. E não pelos brancos. Nascido em Canoa  Quebrada, Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde, é um dos personagens mais emblemáticos. Filho de pescadores, o prático-mor foi um dos que impediu o embarque de negros no Porto de Fortaleza, onde hoje fica a Ponte Velha, na Praia de Iracema. 


“A maioria dos jangadeiros era formada por negros que só esperavam o momento certo para agir. Em janeiro de 1881, eles se recusaram a colocar os cativos em suas jangadas e a partir daí não embarcava mais escravo. Eles estancaram o transporte dos cativos, prejudicando as relações escravistas. Um negro liberto chamado Antônio Napoleão era a liderança entre os jangadeiros da cidade”.
 

Redenção alforriou 116 escravos de uma só vez cinco anos antes da Lei Áurea. As 116 cartas foram entregues aos escravos libertos que passaram a procurar formas de se reintegrar à sociedade. Pesquisador da pós-abolição, Nilson Lopes lembra que muitos negros não se habituaram à Vila do Acarape, antiga Redenção, após a alforria.
 

Resgatar toda essa memória não foi fácil, já que muitos documentos da época se perderam. “Não sabemos exatamente se existe documentação de ex-escravizados, como certidões de nascimento, casamento e óbitos”, afirma.
 

O município de Redenção tem seus símbolos da libertação, como os museus que guardam o pouco dos documentos ainda preservados e a memória escravista em prédios históricos, casa grande e senzala - hoje destino de turistas. 

 

 

PALCO DO TRÁFICO 

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PONTE METÁLICA (VELHA)

 

Local de embarque e desembarque de escravos, a Ponte Metálica (Ponte Velha) foi cenário da greve dos jangadeiros em 1881, que se recusaram a levar os cativos. Na foto, a militante Margarida Marques que questiona a abolição no País.  

 

CASA GRANDE 

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REDENÇÃO
 

A antiga Vila do Acarape, hoje Redenção, foi pioneira no Brasil na libertação de negros escravizados, em 1883. A cidade mantém o Museu Senzala Negro Liberto. Na Casa Grande (foto), viviam o senhor do engenho.   

 

CELEBRAÇÃO

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IGREJA DO ROSÁRIO
 

Conhecida como igreja dos pretos, era espaço de celebração reunindo escravos, africanos ou não, libertos e até brancos. As festividades começavam na Igreja do Rosário, também no Centro, e seguiam em procissão até lá.  

 

SENZALA 

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LOCAL DE TORTURA
 

A senzala era o cômodo destinado aos negros, onde os cativos eram submetidos a castigos de tortura. Na foto, um desses espaços ainda preservados no museu de Redenção. 

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