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Por meio do comprometimento e da obstinação dela, corações brasileiros vibraram nos últimos anos com conquistas mundiais de judocas brasileiras. Treinadora da seleção brasileira de judô até 2017 e atual coordenadora técnica de judô feminino nacional, Rosicleia Campos foi a responsável pela primeira medalha feminina brasileira em uma categoria individual, cuja vencedora foi a judoca Ketleyn Quadros, e de outras que chegaram ao País pelas mãos de nomes como Sarah Menezes e Rafaela Silva. A carioca de 48 anos eleita em 2011 “Melhor Técnica” pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) bateu um papo com O POVO na última quarta-feira, 30, dias antes de sua chegada ao Crato, onde participa até hoje do Encontro Sesc de Judô, realizado pelo Serviço Social do Comércio do Ceará.
O POVO: Como seu engajamento no judô começou?
Rosicleia Campos: Entrei no judô em uma academia perto da minha casa quando eu tinha 11 anos. Eu faltava às aulas do catecismo para ir para o judô (risos). Meus pais, quando descobriram, não me repreenderam: me apoiaram e me matricularam. Tive uma identificação e um rendimento muito rápidos com o judô. Fui então convidada para ir para o Clube do Flamengo e aos 15 anos realizei minha primeira viagem internacional para jogar. Em 2000, entrei como técnica auxiliar para as Olimpíadas de Sidney e em 2001 comecei com técnica da seleção juvenil. Depois, fui para a equipe júnior e em 2005 para a sênior, onde fiquei até o ano passado.
OP: Você abriu precedentes e levou judocas brasileiras a títulos ainda não alcançados. Como vê essas conquistas?
Rosicleia: Vejo que as atletas antes de mim e as da minha minha época possibilitaram que as atletas de hoje alcançassem esse status. Minha chegada deu autonomia de voo à categoria. Uma das condições era a gente conseguir essa independência em relação ao judô masculino, ter esse empoderamento da classe, já que temos necessidades diferentes.
OP: E como foi fazer frente a um modelo mais tradicionalista, dominado por homens?
Rosicleia: Foi muito duro. Foram muitas noites chorando, vontade de desistir. É tanta gente falando contra que você chega a se colocar em dúvida se está mesmo fazendo a coisa certa. Mas graças ao apoio familiar eu consegui seguir em frente. Esse mundo é muito machista. O entendimento de muitos era de que eu estava retirando um espaço que era deles, porque eu era nova, era mulher.
OP - Chama atenção o fato de você ter optado por ser mãe no auge da sua carreira. Foi uma decisão fácil?
Rosicleia: Isso aconteceu depois que a Sarinha [Sarah Menezes] venceu em Londres. Eu ia fazer 43 anos, e ter um filho era a realização de um sonho. Virei para o Ney [Ney Wilson] e disse ‘agora eu vou pra minha medalha de ouro’. Ele foi muito generoso comigo. Todo mundo pensou que eu não voltaria. Sofri muitas vezes em viver esses dois mundos. Teve um tempo em que eu virava a noite chorando e me questionando.
OP - Qual sua análise do universo judoca brasileiro para os próximos anos?
Rosicleia - Acho que precisamos de técnica e investimento. É preciso ligar o botão de alerta. É preciso que nossos atletas saiam mais vezes para o exterior. Uma coisa leva a outra. Temos um solo fértil, mas se não houver essa vivência, fica difícil. Sou otimista quanto ao material humano e pessimista quanto à situação do País no que diz respeito a dar experiência aos atletas.
Por
Kelly Hekally
EDITORA-ASSISTENTE DO LAB 282