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Cláudio Ferreira Lima: o adeus ao homem que desenhava o futuro
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Cláudio Ferreira Lima: o adeus ao homem que desenhava o futuro

| DESPEDIDA | Economista, de 71 anos, estava envolvido atualmente com o esforço de planejar o Ceará para 2050. Nada mais Cláudio Ferreira Lima
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Cláudio Ferreira Lima viveu do futuro até o último dia. Aos 71 anos, já aposentado do BNB, onde assentou carreira desde meninote, e prestes a reunir as colaborações que manteve regularmente no O POVO em um novo livro, meteu-se com unhas e dentes no projeto “Ceará 2050”.

[SAIBAMAIS]
Ali, ocupando a função de assessor especial do governador do Estado, alinhavava o porvir, fazendo o que sabia de melhor: conciliar a matemática e o sonho, o rigor do planejamento e a engenharia do impossível.
 

Falecido na madrugada de ontem vítima do câncer, o economista foi-se sem jamais abrir mão de um e outro compromisso. De acordo com ele, sem água ou conhecimento, nem bicho nem gente vão pra frente. Ex-seminarista, esse era o seu credo pessoal e profissional.
 

Uma missa está programada para hoje em sua homenagem, às 8 horas, na Funerária Ethernus (rua Padre Valdevino, 1688). Às 10 horas será feito o sepultamento no Parque da Paz.
 

Como Celso Furtado, o cearense era homem que “organizava a fantasia”. Os cálculos auxiliavam no desenho da redução das desigualdades, pedra de toque de suas ideias à frente dos inúmeros cargos públicos que assumiu – de Virgílio Távora a Camilo Santana, Cláudio foi chefe do Instituto de Planejamento do Ceará (Iplance), secretário do Planejamento, assessor da bancada do Nordeste na Constituinte de 1988 e secretário-adjunto da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Estado (SDE).
 

A literatura, por sua vez, ajudava a esculpir um Ceará feito de utopia. Como quando elaborou o Projeto São José, que levou abastecimento d’água ao Interior.
 

Disso lembra Isabel, a filha mais nova dos três que Cláudio deixou do casamento com dona Noemi. Revisora por ofício, ela era a primeira leitora dos artigos escritos pelo pai e enviados ao O POVO ao longo de quase oito anos de colaboração. “Só corrigia o português mesmo, mas quase não tinha trabalho”, lembra. “Minha mãe era que discutia mais com ele.”
 

Para ela, o pai deixa uma marca. “Engajamento. Ele tinha espírito de  coletividade, uma empolgação nas coisas do dia a dia. A vida dele foi pautada pela consciência de trabalhar pelo nordeste”, recorda. “E tinha paixão verdadeira pela leitura. Lia poesia. Era um humanista.”
 

Dos poetas, Manuel Bandeira era o predileto. Um nordestino feito ele e Furtado. De um extraía sumo para aprimorar a visão desenvolvimentista que alimentava as ações que criava como formulador. Do outro nutria-se o homem.
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“Ele se empenhava igualmente em todos os trabalhos”, recorda Isabel, a segunda filha, que, à semelhança do pai, acabou seguindo carreira pública (é secretária do Urbanismo na Prefeitura de Sobral).
 

Cearense de Pacoti, Cláudio ou CFL, como os mais chegados se referiam a ele, cortava o sertão de carro sempre que podia. Avesso a holofotes e sem cacoetes de cargos e partidarismos, tinha três lições que carregava consigo.
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A primeira: qualquer que fosse o projeto público, todas as secretarias de governo deveriam estar envolvidas. A segunda: toda ação de governo precisa alcançar o maior número de pessoas nos municípios, independentemente da coloração partidária do prefeito de turno. E finalmente: não há Estado sem ouvir a sociedade – um governo existe para a sociedade e não o contrário.
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Para o deputado constituinte Firmo de Castro, Cláudio, “como cidadão e profissional, foi homem por inteiro” e um “dos últimos especialistas verdadeiramente qualificados no estudo da questão regional brasileira”. Segundo o parlamentar, o amigo “deixou, em todos os sentidos, um grande vazio”.
 

Primo, Carlos Alberto Farias, 79, brinca: “Eu era mais velho que ele e dizia – o Cláudio não morre nunca”. Jornalista e professor, ele cuida em explicar: nascido num 29 de fevereiro, Cláudio só faria aniversário de quatro em quatro anos. “Ele ria, mas sabia que era verdade.
O Cláudio vai ficar sempre.”
 


 


 

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