Logo O POVO+
Editorial. "Eu não soube me conter..."
DOM

Editorial. "Eu não soube me conter..."

Edição Impressa
Tipo Notícia

 
É difícil saber se o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, foi sincero ou era mais uma estratégia da defesa, ao fazer a seguinte confissão perante o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal: “Eu não soube me conter diante de tanto poder e tanta força política”.


Porém, sendo verdadeiro ou não o seu “arrependimento”, como classificou Bretas a declaração de Cabral, a sua assertiva revela uma verdade que pode ser observada entre boa parte dos homens que estão em posição de muito mando. “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus”, é uma frase famosa, atribuída a Lord Acton (1834-1902), jornalista e historiador britânico, que resume a predisposição dos poderosos, em qualquer campo da atividade humana.


Esse foi o comportamento do ex-governador, segundo suas próprias palavras - no período em que governo o estado do Rio -, ao admitir ter praticado a desonestidade, a “soberba” e a “promiscuidade” com empresários. Ele negou, no entanto, ter pedido suborno, mas reconheceu ter-se apropriado de sobras de caixa dois de campanhas políticas. Disse ter arrecadado R$ 500 milhões em “doações” para suas campanhas e de aliados. Afirmou que, de “maneira vaidosa”, queria “fazer” (eleger) prefeitos, vereadores e deputados. Do valor arrecadado, disse ter ficado com R$ 20 milhões para uso pessoal.

A história de Cabral, a sua ostentação, faz parte da vida política brasileira e de muitos funcionários públicos privilegiados. Não se afirma aqui, de modo algum, genericamente, que servidores e políticos sejam corruptos. Porém, muitos se igualam na vaidade e na sensação de poder, o que pode levar a abusos, ainda que legais.

Basta verificar os salários que recebem e a quantidade de privilégios de que dispõe um parlamentar em Brasília para se obter um exemplo desse tipo de excesso.

Talvez o depoimento de Sérgio Cabral possa servir de alerta para que alguns ocupantes de altos postos observem para onde pode levar a sensação de extremo poder, que não estabelece limites entre o bom e o mau, o certo e o errado. 

O que você achou desse conteúdo?