DIPLOMATAS SÃO MEDIADORES de relações internacionais, defensores de interesses nacionais, pessoas dadas ao diálogo, flexíveis, negociadores e que respeitam as diferenças e tomam decisões pragmáticas. Ou pelo menos deveriam ser. O futuro ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, mostra que não é bem assim. Ao se declarar anti-globalista, por consequência, ele critica a necessidade (e existência) de órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), e a razão de ser da própria função que exerce, como diplomata de carreira.
Nesta visão contra o "globalismo", não deve haver interferência de burocratas (como os diplomatas) e políticos nas relações entre nações. Admirador do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Araújo se apresenta ainda como um defensor das liberdades. Estranho, já que o presidente americano é favorável à taxação excessiva de mercadorias importadas, o que altera a lei de livre mercado e contamina a concorrência.
Apesar de se mostrar culto, Araújo parece incapaz de ver a contradição de seu discurso religioso. É mais um caso de liberalismo seletivo, que defende a propriedade privada acima de tudo, mas costuma podar as escolhas individuais. Classificando-se como ocidentalista, ele critica ainda o multiculturalismo, uma das bases mais sólidas da formação da identidade de países ocidentais como Inglaterra e Estados Unidos. Pior, o homem quer soar inteligente, mas nega as evidências científicas e prefere acreditar que as mudanças climáticas são uma conspiração marxista.