Uma terra de cíceros. Em cada família, um rebento carrega o nome do Padim. Não se dissocia a história de Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, da vida do Padre Cícero Romão Batista. Como cumprimento de missão dada em sonho pelo próprio Cristo, o padre fez de sua missão ajudar os retirantes flagelados da seca. De vila fundada em 1872, Juazeiro se tornou uma das maiores e mais desenvolvidas cidades do Ceará. Carregando na alma a devoção pelo "santo popular", o município comemora a vida do padre, que completaria 175 anos hoje, 24 de março. Todos os anos, o período é marcado por homenagens e celebrações.
O quarto de cinco filhos de família tradicionalmente religiosa, Padre Cícero José, pároco-reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora das Dores, foi escolhido para ser o Cícero da família. Ele é o 10º na sucessão da paróquia e o primeiro a carregar o nome de Cícero. "A Cidade tem quase uma hipoteca com o Padim: tudo respira a influência e os ensinamentos do padrinho", compara. "Uma resposta a todo bem feito por ele", que, na fé do povo, há muito já é santo.
Núbia Almeida, professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Cariri (Urca), frisa a importância do padre na perspectiva da educação. "A preocupação dele, além da missão maior - a religiosa -, foi no ensino. A contribuição dele para a educação é muito significativa", frisa. Ela destaca que ele foi responsável por dois grandes feitos: a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte - a primeira do Brasil - e o Colégio Salesiano São João Bosco.
Ela avalia que, mesmo tendo sido formado em uma das escolas mais importantes, o Seminário da Prainha, em Fortaleza, "foi difícil que as pessoas admitissem que ele também era um intelectual, porque ele se posicionou ao lado dos pobres". Após o caso conhecido como "milagre da hóstia", no final do século XIX, Padre Cícero morreu sem conciliação com a Igreja Católica. Em 2015, o Vaticano atendeu ao pedido do bispo Dom Fernando Panico e reconciliou o padre com a igreja. Segundo a pesquisadora, a beatificação é uma questão de justiça. "O padre Cícero sempre foi um padre que amava a Igreja Católica. Embora, na historiografia, muitas vezes tenha sido visto como um rebelde".
Conforme o Padre Cícero José,a paróquia espera um documento de "nada consta que dê permissão para a Diocese começar o processo de beatificação e encaminhar para Roma". "Infelizmente não temos datas. Só rezamos e acreditamos que não demore muito".