Jair Bolsonaro chegou ao comando do Planalto prometendo, uma vez eleito, "varrer" influência ideológica das escolas brasileiras. Destacava para isso, principalmente, a importância de se priorizar a educação dada pelos pais, dentro da necessidade de preservação da própria criança. Ou pelo menos era o que defendia.
Desde que o capitão da reserva assumiu as rédeas da nação, no entanto, o que se vê é o extremo oposto: nunca a ideologia esteve tão presente dentro do "debate" da educação. Em apenas três meses, o Ministério da Educação caminha para ter seu quarto secretário-executivo (o "número 2" da pasta). Número de projetos novos tocados pelo MEC, no entanto, ainda é próximo de zero.
O que surpreende é que o troca-troca não é motivado por critérios técnicos, discordância de projetos ou nada do tipo. Ocorre, na verdade, em meio a embate aberto entre núcleo "pragmático" de militares, que quer tocar projetos técnicos na pasta, e outro "ideológico", que quer usar o MEC para eliminar traços de governos anteriores na educação. A ideia do segundo grupo, como ninguém do próprio governo faz mínimo esforço de esconder, é "varrer" qualquer influência de esquerda na área.
Vale lembrar que tal debate infrutífero entre "comunistas" e "golpistas" ocorre não na Dinamarca ou Suécia, mas no Brasil, país de mazelas enormes (e muito bem documentadas) na educação. Professor desvalorizado, evasão escolar, currículos defasados e gestão ineficiente: nada disso é foco de indignação. Nem dos governos anteriores, nem do atual. E pelo visto, peças continuarão caindo em meio ao marasmo do MEC "sem ideologia".