Reitores das universidades federais do Ceará se mobilizam para pressionar o ministro da Educação, Abraham Weintraub, a rever o contingenciamento de recursos previstos para despesas básicas nas instituições.
Responsável pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Henry Campos diz que vai acionar o MEC amanhã. "Quem é nosso mantenedor? É o MEC. Eu faço o que o MEC me manda", disse. "Ele (o ministro) vai ter que confirmar esses cortes oficialmente, por meio de documento. É isso que vou pedir na segunda-feira à Secretaria de Educação Superior."
O reitor acrescenta que irá solicitar ainda instrução da pasta comandada por Weintraub para determinar de quem será a responsabilidade caso os contratos com empresas terceirizadas não sejam honrados por falta de verba.
Campos, todavia, pondera: "Espero que essa coisa não aconteça. Ainda acredito que prevalecerá o bom senso e que essa posição vai ser revista".
Virgílio Araripe, reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), afirma que a instituição começa já nesta segunda-feira a preparar um levantamento técnico para avaliar os impactos financeiros do represamento de recursos promovido pelo Planalto.
"Estamos fazendo um estudo para saber o que isso vai acarretar e prevendo cortes, caso isso se mantenha", informa. Para ele, a partir dessa sondagem, o IFCE deve obter um diagnóstico que apresentará o quadro de respostas "para saber como a instituição pode sobreviver a isso".
Além da preparação interna, Araripe também espera que a divulgação das consequências do contingenciamento do governo faça o MEC desistir da medida. Em todo o País, unidades de ensino superior passaram a publicizar, desde a sexta-feira última, a previsão de cortes em seus serviços caso a suspensão do repasse se mantenha.
Vice-reitor da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Juscelino Silva declarou, em entrevista à Rádio O POVO/CBN na região, que a entidade terá de rediscutir todo o seu planejamento orçamentário para o segundo semestre.
"Vamos ter que fazer um replanejamento, ver o que pode ser atendido", respondeu. "A UFCA vai tentar minimizar o máximo possível esse impacto" financeiro do congelamento de verbas, prometeu. A universidade teve 47% de seus recursos de custeio (aqueles que bancam gastos com limpeza, segurança, energia e outros) represados.
Cientista político e professor, Uribam Xavier avalia que, embora Weintraub tenha alegado razões técnicas para decidir sobre o congelamento de despesas das universidades federais, a intenção do gesto do ministro é outra.
"Há uma motivação política e uma tentativa de imposição de um sistema doutrinário", defende o pesquisador, que vê uma "contradição performativa". Xavier explica que o ministro "nega uma postura ideológica assumindo exatamente o que a postura dele nega".
O estudioso completa: "Weintraub critica uma visão de mundo inclusiva e defende uma excludente, restrita, exclusivista, teocêntrica, militarizada e não democrática". Para ele, o País vive "um momento de obscurantismo muito grande".
Procurado, o Ministério da Educação informou ao O POVO, por nota, que a decisão da pasta pode ser revista apenas se a economia melhorar no segundo semestre e a arrecadação do governo aumentar. (Henrique Araújo)