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A beleza que existe
DOM

A beleza que existe

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Dois aspectos chamam atenção quando se fala em João Gilberto. O primeiro é um talento que muito se comenta, pouco se questiona e pouquíssimos sabem explicar. O segundo sãos as manias, coisas estranhas como viver isolado num apartamento de janelas e cortinas fechadas.

É provável que haja uma dose de loucura na genialidade de João. Mas essa amálgama é comum entre gênios. Mozart virava noites em busca da partitura perfeita. Jimi Hendrix também levou seus excessos às últimas consequências. Elis estava longe de ser uma pessoa fácil. E o que dizer de Michael Jackson, que nunca soube separar realidade e fantasia?

Para João Gilberto, tudo que interessava era o silêncio. A música deveria ter silêncios para que os sons brilhassem, e todos deveriam fazer silêncio para ouvir esses sons. Num mundo zoadento, é difícil entender isso. Ele insistia e atraiu muitos para seu mundo particular. Roqueiros como Rita Lee e Novos Baianos fizeram silêncio para ouvir o mestre. Lendas do jazz observaram cada detalhe para tentar entender de onde vinha aquele som.

Depois do Brasil conhecer o canto operístico de Angela Maria, Cauby Peixoto e Francisco Alves, João chegou falando baixinho e criou um mundo a partir do silêncio. Quem se importa se ele sempre pedia o mesmo prato, do mesmo restaurante? Quem se importa se ele consertava os óculos sempre na mesma ótica? Sim, ele era adepto dos telefonemas intermináveis na madrugada. E daí? A real loucura de João foi insistir na perfeição e acreditar que alguém iria prestar atenção numa música onde a maior riqueza está na simplicidade. Ele acreditou nisso e acertou. O mundo acabou se rendendo à genialidade de João. E louco mesmo é quem nunca se rendeu também.

 

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