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Ancine no Ceará
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Ancine no Ceará

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Através da parceria da Secult com a Ancine ou de editais federais, muito do cinema cearense recente é resultado das políticas públicas voltadas para o audiovisual. "Os editais possibilitam a descentralização da produção, criação de conteúdos mais plurais, vozes que surgem não apenas de espaços economicamente consolidados", inicia a roteirista e diretora Natália Maia. Entre outras atuações, ela é uma das roteiristas do filme cearense Pacarrete, de Allan Deberton (viabilizado através do edital federal de longa de baixo orçamento), e criadora da série Os Herdeiros, contemplada por aportes dos arranjos regionais.

"Além da produção de conteúdos, fortalecemos um mercado imenso de profissionais que exercem empregos diretos e indiretos nessas produções: equipe, elenco, motoristas, alimentação, aluguel de equipamentos e locações", avança Natália. "Há de se pensar o que é a importância do cinema como cultura, indústria, mercado, geração de empregos. Estamos falando de uma coisa muito séria", dialoga o cineasta Halder Gomes, diretor de Cine Holliúdy. Ele lembra que o longa, com quase 500 mil de público, "veio de um edital do Ministério da Cultura para filmes de baixo orçamento, na época um investimento de R$ 1 milhão. Olha o tanto de desdobramentos culturais e econômicos que aconteceram a partir de um único investimento. Isso é a cadeia produtiva, sequencial, do audiovisual", exemplifica.

O roteirista e diretor Samuel Brasileiro, parceiro de Natália em Os Herdeiros e Pacarrete, entre outros, trabalhou em filmes como Clube dos Canibais e Greta, contemplado pela Ancine. Ambos passaram por festivais internacionais. "O cinema brasileiro ganhou muito espaço no mercado internacional graças às políticas de incentivo e de descentralização do investimento público", ressalta Samuel. "O que será que representa melhor o Brasil hoje em dia? O cinema ou Eduardo Bolsonaro como embaixador? Tenho certeza que é o cinema, bombando em Berlim, em Cannes", dialoga o cineasta Pedro Diógenes, diretor de longas como Inferninho e O Último Trago, contemplados cm recursos da agência via edital estadual.

Pedro defende que, na possibilidade do edital da Secult ser reduzido, caso o aporte da Ancine não se concretize, a secretaria siga colocando em movimento o cenário audiovisual local. "(No caso de diminuição de recursos) daria pra fazer um edital mais focado em primeiros longas, ou para o interior. O importante é estar movimentando, não deixar um vácuo muito grande de tempo sem as pessoas trabalharem. A função da Secult é fazer com que as pessoas que estão trabalhando continuem e que quem tá vindo também tenha oportunidade", considera.

"Acompanho as intenções do governo (do Ceará) em criar no cenário audiovisual local condições maiores de fomento e inserção no mercado. Por isso acho que é muito importante esse movimento para poder agregar, além do que a Ancine pode proporcionar, uma solidez na produção audiovisual cearense. A criação da Ceará Filmes, mais investimentos nos editais, a formação acadêmica que o Ceará tem, tudo ajuda o Estado a firmar seu cinema, mas com o pensamento também no futuro. Com certezas ou incertezas, o Ceará está plantando um pé no futuro do audiovisual", acredita Halder. Apesar das movimentações estaduais, já é possível observar paralisações na indústria. "É uma situação de instabilidade para quem trabalha com o setor de audiovisual no Brasil. Não se sabe se será dada sequência mesmo a projetos já aprovados, o que torna difícil fazer projeções para o futuro", exemplifica Natália.

"Não acredito que a produção de cinema no Estado irá se paralisar como ocorrera no Governo Collor, mas terá efeitos devastadores na área. A indefinição do que pode vir a acontecer com a Ancine desestrutura as previsões de produção. Hoje já possuímos dificuldade do pagamento do investimento federal para a complementação de verbas, além da dificuldade de comunicação com setores responsáveis. É importante notar que somente investimento continuado traz resultado. Tivemos filme cearense em Berlim e filme dirigido por cearense em Cannes. Nada disso acontece por acaso", finaliza Samuel. (João Gabriel Tréz)

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