Christiane Torloni está em Fortaleza desde sexta-feira passada, 16, para apresentação do espetáculo Master Class. Adaptado do premiado clássico da Broadway, o musical - que já teve temporadas em 2015, 2016 e 2018 - é dirigido por José Possi Neto e passou por 12 cidades, seguindo na capital alencarina até hoje, 18. O show conta a história da maior soprano da história, Maria Callas - interpretada por Torloni -, e é baseado nas aulas que a cantora de ópera dava em Juilliard, escola de música em Nova York.
Torloni começou a carreira ainda jovem. Em 1975, foi convidada pelo diretor Walter Avancini para atuar no episódio Indulto de Natal, do programa "Caso Especial", na Rede Globo. Anos depois, fez a primeira protagonista, na novela Gina. Além de atuar na televisão - onde esteve recentemente em O Tempo Não Para - e no teatro, a atriz agora mergulha na experiência de ser diretora de cinema. Este ano, ela teve o primeiro trabalho em direção com o documentário Amazônia - O Despertar da Florestania. O filme trata da experiência com o abaixo-assinado pela preservação da Amazônia, feito por ela em 2008. O POVO conversou com Christiane Torloni, que falou sobre a peça, o filme e a carreira.
O POVO - Quais os trabalhos para este ano? Já tem novela em vista?
Christiane Torloni - Acabei de atuar, esse ano, na novela O Tempo Não Para que foi um grande sucesso! Como sou contratada da TV Globo, daqui a pouco devemos ter novidades... Também fiz, este ano, a minha estreia como diretora no documentário Amazônia - O Despertar da Florestania. Produzi o longa-metragem em parceria com a Globo Filmes. O documentário, que assino a direção com o Miguel Przewodowski, é resultado de uma experiência que tive quando fiz abaixo-assinado pela preservação da Amazônia, em 2008. Ele traz encontros incríveis que tive durante o abaixo-assinado, quando conseguimos mais de um milhão e 200 mil assinaturas - um recorde no Brasil -, e depois quando a gente fez o processo da Renca pra impedir o Temer de vender metade da Amazônia. O filme entrou em cartaz, em maio, nos cinemas das principais capitais do País e hoje pode ser visto no NOW, Vivo Play e Oi Play.
OP - Qual o sentimento de interpretar a Maria Callas, considerada a mais renomada e influente cantora de ópera do século XX, além de a maior soprano de todos os tempos?
Christiane Torloni - É muito incrível porque quando você se aproxima da Callas, a história dessa mulher é uma história de superação, desde o nascimento dela, pois ela foi recusada pela mãe nos primeiros dias. Então, esse é um espetáculo para você se apoiar em alguém que, mais do que tudo, não desistiu do seu belo. Ela não era só uma intérprete. Era uma grande música, tocava piano muito bem. Ela entendia tanto de música quanto os maestros que a regiam. Por isso ela pôde desfrutar deles e eles dela como ninguém. Ela não era só uma cantora interessada em cantar notas.
OP - A experiência de atuar em um musical é muito diferente de outros trabalhos com o teatro?
Christiane Torloni - Este é um trabalho que exige uma precisão danada, que vai além da dança. Tenho uma preparadora física, assim como os outros cantores. Me preparo com muito rigor e concentração. Eu fiz aula de canto. Mesmo que você nunca cante em um musical, é importante para formação. Inclusive para entender o universo das orientações que ela traz aos cantores. Com meu professor no Rio de Janeiro comecei a estudar pela ária de Amina - personagem de Callas na ópera La Sonnambula - para poder entender em mim mesma o que ela faz, o quão difícil é o que ela faz. Você se apropria. Você vai fazer um pianista, você tem que entender o universo, mesmo que não vá tocar. Entender mentalmente, entender emocionalmente, porque isso muda a atitude física completamente.
OP - Quanto à TV e ao teatro, prefere algum dos dois ou o sentimento é o mesmo dentro das especificidades de cada um?
Christiane Torloni - A mamãe (Monah Delacy), que é atriz, atuou grávida até uns sete ou oito meses. As minhas primeiras babás eram as camareiras. Então, o teatro para mim é o meu primeiro playground porque é o meu lugar natural até de reflexão. Lá fui amamentada, ninada, influenciada e inspirada. Na TV, a minha estreia foi nos anos 70. O Walter Avancini me convidou para fazer o Indulto de Natal, na Globo. Ali achei que jamais seria uma atriz. O Walter tinha uma pegada tirânica, ele era duro, fiquei com tanto medo que mal conseguia falar. Anos depois fiz a minha primeira protagonista, na novela Gina. Foi muito difícil. O Herval (Rossano) era bravo, mas a televisão é incrível porque você aprende fazendo. Não tive curso melhor de formação artística do que a minha experiência na TV Globo e depois na Manchete, que também foi impressionante, você tem que aprender a fazer tudo.
OP - Qual a responsabilidade de interpretar um papel que já foi de Marília Pêra? Como é a relação de vocês duas?
Christiane Torloni - Mais do que a responsabilidade de fazer um espetáculo da Broadway, é a responsabilidade de fazer um papel que já foi vivido no teatro pela Marília Pêra, uma das nossas maiores atrizes. O texto que eu uso é o da Marília. Ela foi de uma generosidade imensa. Vimos com uma bênção. A Marília dirigiu o primeiro espetáculo que eu fiz no teatro, que também foi a estreia dela na direção. Eu sinto uma passagem de bastão aí, que nem às vezes sinto na televisão. Você começa a herdar papéis, e isso é muito bonito.
OP - O que as pessoas que forem assistir podem esperar do musical? Qual a mensagem do espetáculo?
Christiane Torloni - Acho que a Maria Callas coloca a serviço da música, da arte, da beleza toda a experiência que ela tece na vida, incluindo a pessoal. O subtítulo da peça poderia ser "Ensina-me a Viver", é de uma profundidade e de uma humanidade. Apesar de toda a técnica, ela não acredita só em técnica. Só acredita naquilo que vem do coração e vai forçando isso nos alunos. É uma aula de humanidade. A peça tem um texto lindo e sempre digo que esse espetáculo é uma sessão de autoajuda disfarçado (risos). Ele fala muito em superação e as pessoas saem muito motivadas a se apaixonar, acreditar nos seus sonhos. Ele também tem um humor muito refinado que provoca as pessoas na plateia. Eu sempre entendo que quando alguém de verdade chega à minha vida é porque ela veio para me ensinar alguma coisa, não só no palco. O texto do espetáculo parece uma cartilha de conduta existencial, moral. O Jessé Scarpellini, que é um dos tenores, fala que é uma aula de vida, uma aula de teatro. É uma "Master Class" mesmo.
Teatro
O espetáculo Master Class está sendo apresentado no Teatro RioMar, rua Desembargador Lauro Nogueira, 1.500. Hoje a apresentação começa às 20 horas.