O Fagner de Copa Luz, Acalanto para um punhal, Postal de Amor, Cigano e Quem viver chorará, nos anos 1970, tinha um tanto de experimental e ousado. Foi ali, naquela primeira década de carreira consolidada, que ele lançou discos importantes e fez boas parcerias (como com o guitarrista Robertinho do Recife). Não vou aqui desmerecer os grandes hits da carreira do cearense - aqueles que fazem multidões rasgar a garganta e cantar a plenos pulmões (eu, inclusive). É que a obra de Fagner vai além, bem além das gravações de Borbulhas de amor, Espumas ao Vento, Canteiros (que nasceu nos anos 1970, inclusive) e Retrovisor.
Entre seus legados musicais, estão produções de discos como Soro e Massafeira, sendo um músico com visão e poder de aglutinação de pessoas e ideias. Do Soro, saíram raras e belas gravações como Estrela Ferrada (Cirino), Aguapé (em gravação de Faner e Belchior), além do primeiro registro da voz de Fausto Nilo em disco, este ao lado da grande Núbia Lafayette, em Coração Condenado. Já a Massafeira, se tornou um marco da música feita pelas bandas de cá.
Ao longo do tempo, Raimundo foi se tornando mais pop. Foi largando os cabelos na altura dos ombros e as guitarras experimentais por um cabelo mais curto e composições mais acessíveis - digamos assim - ao grande público. A partir dos anos 1980, parte de sua obra se tornou trilha sonora para os românticos (vide os bonitos discos Romance no Deserto e O Quinze) e para os corações partidos. Na mesma década, abarcou identidades da música regional como um traço de seu trabalho e chegou a gravar, inclusive, álbum com o saudoso Gonzagão.
A propósito disto, outro disco em parceria que de destaca na discografia de Raimundo foi gravado ao lado de Zeca Baleiro, nos anos 2000, - lançado em show que fez lotar o Anfiteatro do Centro Dragão do Mar e até hoje tem músicas presentes em seu repertório. Com os diferentes contornos que sua discografia foi tomando ao longo do tempo, Raimundo se consolidou com obra robusta e segue relevante na música brasileira, no passado e no presente, da vitrola ao streaming.
Camila Holanda, jornalista