Amada por alguns, odiada por outros. A dublagem, inegavelmente, é uma ferramenta fundamental quando pensamos no consumo de filmes e de séries produzidas em inglês, francês e outros idiomas estrangeiros. Quando as obras audiovisuais estrangeiras começaram a aportar em território brasileiro, entretanto, o processo era executado inteiramente pelas emissoras de televisão. Assistir a um filme no cinema? Apenas em inglês. Mas o mercado evolui e as produções, também. Tanto que, hoje, parte majoritária das salas de cinema são ocupadas com filmes dublados. Gerando até um certo desconforto em uma fatia do público.
As mudanças no processo de dublagem, obviamente, afetaram diretamente a forma como os profissionais dessa área são selecionados, têm suas formações e, claro, executam seus trabalhos. O diretor de dublagem Phillipe Maia explica que, no século passado, era possível pensar em orquestras tocando dentro das salas de estúdio. Atualmente, ele explica, os processos são tecnologicamente refinados. Ele é conhecido por emprestar sua voz a Chris Rock, protagonista da série Todo Mundo Odeia o Chris. Phillipe lembra que, em seus primeiros trabalhos, os grupos de profissionais se reuniam nos estúdios para realizar as cenas juntos.
Agora, com o avanço das técnicas de mixagem, cada um dos profissionais envolvidos tem o seu momento em estúdio. A função ficou mais solitária, mas, em recompensa, a qualidade do áudio e a possibilidade de refinar detalhes foram acrescidas. Como tantos pequenos brasileiros, Phillipe Maia se acostumou a escutar o bordão "Versão Brasileira: Herbert Richers" antes de desenhos animados que eram transmitidos na televisão aberta. À época, entretanto, ele já nutria a curiosidade infantil por saber quem era "Herbert Richers" e o quê ele fazia.
Herbert Richers foi um pioneiro na dublagem e, em 1950, fundou o principal estúdio especializado que o Brasil já testemunhou. Bem relacionado e caminhando à frente de seu tempo, ele chegou, segundo as histórias passadas através dos tempos, a ter contatos diretos com o gigante Walt Disney - que já nesse tempo se preocupava com a qualidade dos produtos que chegavam aos consumidores fora dos Estados Unidos. As vozes escolhidas por Herbert Richers chegaram a ser utilizadas em mais de 90% das produções estrangeiras que circulavam no Brasil no século passado. Herbert morreu em 2009. Não teve tempo para ver dois acontecimentos trágicos: a falência da empresa e o incêndio que dizimou todos os originais.
A influência de Herbert Richers, entretanto, ainda ressoa. Prezando sempre pela qualidade, ele foi responsável por formar gerações e mais gerações de profissionais envolvidos com o processo de dublagem - passando pelas funções artísticas e técnicas. Maíra Góes, diretora da Beck Studios, assinala que, em décadas passadas, todos eram contratados formalmente pelos estúdios e mantinham a possibilidade de realizar trabalhos externos. Agora, os profissionais da dublagem atendem sempre em modelo "freelancer". Para a maioria, ela diz, isso não é um problema. "Não faltam convites. Quem entra no mercado recebe convites que não dá conta", ela diz. Maíra é dona de uma das vozes mais lembradas do cinema: Dory, dos filmes Procurando Nemo e Procurando Dory. "É estranho quando reconhecem a minha voz em lugares públicos. Mas, mais estranho ainda, é que agora reconhecem meu rosto", diz.
*A repórter viajou a convite do evento Minas Gerais Audiovisual Expo (MAX)
A voz de Dory
Maíra Góes é responsável pela voz de Dory, personagem da Disney. Além de realizar vários testes no Brasil, ela explica, foi necessário enviar registros de sua voz para Los Angeles. Lá, a gigante do entretenimento realiza as seleções finais. A voz dela também é usada duas atrizes de projeção internacional: Mila Kunis (Amizade Colorida) e Keira Knightley (Everest).
Muitas vozes no currículo
Phillipe Maia é conhecido por realizar a dublagem de personagens muito diversos. Em seu currículo estão Jared Padalecki como Sam Winchester, em Sobrenatural, e o pequeno cozinheiro Remy, em Ratatouille. "Não adianta que apenas os personagens principais sejam feitos por bons dubladores, é necessário que todo o time seja excelente", acredita Phillipe.
Um clássico
Orlando Drumond é responsável pelas vozes de personagens que marcaram época na televisão brasileira: Scooby Doo, Popeye e Vingador.
Nova geração
Guilherme Briggs é dono das vozes de Buzz Lightyear e Optimus Prime.
A voz de Alladin
Daniel Garcia, o criador da drag queen Gloria Groove, empresta a voz para múltiplos personagens. Desde Chase (Patrulha Canina) e Rico Suave (Hannah Montana) até Aladdin.
Estrelas também dublam
Artistas consagrados como Rodrigo Santoro, Fábio Porchat, Juliana Paes, Iza, Selton Mello e Heloísa Perrissé estão dentre os famosos que fazem dublagens de filmes, em especial de animações de grandes estúdios.