Logo O POVO+
Os desafios que esperam os políticos no difícil ano de 2020
DOM

Os desafios que esperam os políticos no difícil ano de 2020

Extensa fileira de problemas e desafios administrativos e políticos desafia nomes nacionais, estaduais e municipais, que terão que se desdobrar em resoluções. O ano eleitoral promete agravar o quadro de complicações
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
 (Foto: )
Foto:

Atores políticos locais e nacionais terão de administrar conflitos e enfrentar alguns desafios particulares às características do ano que se aproxima. Para quem ocupa espaços de poder, a mais flagrante barreira a se superar tende a ser a de conciliar a agenda de gestão com as metas político-eleitorais. Tudo em ano no qual o acirramento, novamente, deve dar o tom das campanhas. Se a pressão em cima de gestores municipais deve crescer, já que estarão no último ano de mandato (seja o quarto ou o oitavo), a exemplo do prefeito Roberto Cláudio (PDT), a que recairá sobre os ombros de Jair Bolsonaro, por exemplo, não deve ficar aquém.

O presidente da República entrará no segundo ano dos quatro para o qual foi eleito, quando a demanda popular por melhorias efetivas na economia deve crescer, já que concluído o "ano da adaptação", como definiu General Heleno, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

"O primeiro ano é sempre o ano onde mais reformas são naturalmente feita, apesar de encontrarem divergências", comenta Emmanuel Teófilo, cientista político da UFC. "Com o passar do tempo, é natural que o desgaste vá aumentando, o que é natural."

Se quiser manter o governo viável, o militar da reserva precisa consolidar base de apoio no Congresso Nacional e, não menos importante, manter fiel o núcleo que conseguiu nas ruas. Último levantamento Ibope apontou que os indicadores de popularidade oscilaram para baixo. Dentro e no limite da margem de erro, o que não impede de servir de alerta.

Bolsonaro também terá no caminho matérias de importante importante aprovação para o Planalto, caso da reforma tributária, ainda sem formato definido. "E, claro, tocar a reforma administrativa, que alguns pontos já começam a aparecer na imprensa e a expectativa para março é de que a gente já comece a ver alguns pontos da reforma tramitando no Congresso", lembra Magno Karl, cientista político de São Paulo.

Além disso, embora o nível de participação dele nas campanhas eleitorais ainda seja incógnita, é certo que terá de ter pressa para que o Aliança pelo Brasil, que ainda não é um partido, mas uma ideia, venha a ser oficializado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No plano local, Roberto Cláudio e Camilo Santana, peças de uma engrenagem operada por Ciro e Cid Gomes, terão obstáculos a driblar no próximo ano. Como primeira meta, o prefeito de Fortaleza terá de concretizar o máximo de obras que ele propôs. São 700 ações a serem executadas entre este ano e o seguinte. Quem faz a observação é o professor de Ciências Políticas da UFC, Cleyton Monte.

Listen to "#60 - Os bastidores da eleição 2020 em Fortaleza" on Spreaker.

O analista considera que a agenda de realizações firmará o prefeito no imaginário das pessoas como alguém que teve o que apresentar de obras, aos moldes do legado deixado por Juraci Magalhães (1990 -1993 e 1997-2004). Se acontecer em 2020, segundo o que sublinha Monte, ele facilitará o caminho do sucessor ao Paço Municipal. "Não só isso, mas também (aumentará) a possibilidade de postulação em 2022 ao Governo do Ceará", lembra o professor.

Enquanto isso ocorre, o governador Camilo Santana (PT) terá de decidir, a partir do Palácio da Abolição, qual será o nível de participação na campanha eleitoral. Também terá de administrar confrontos dentro de sua base de apoio na Assembleia Legislativa. Ainda de acordo com o professor, a tendência é de neutralidade na Capital mais uma vez, seguindo conduta adotada em 2016. O impasse de Camilo é a intenção do PT em ter candidato.

As urnas da eleição de 2018 conferiram mais peso político a Camilo, reconduzido que foi com 79,94% dos votos válidos. Mesmo assim, o professor projeta que interferência dele no jogo eleitoral, pendendo para um dos lados no primeiro turno, só seria possível sob uma condição. "Se Wagner estiver muito na dianteira", anota. Se cenário for de apuros, o petista deverá marcar posição por quem estiver na segunda colocação, seja do PT ou do PDT, entende o cientista.

Em caso de este cenário se configurar, o nome do senador é comentado nos bastidores como possibilidade, o que ele descarta sempre que questionado. "Uma candidatura dele seria desespero", comenta Monte, justificando que eventual derrota do segundo mais expressivo nome do grupo para um adversário causaria maiores danos que revés sofrido por Samuel Dias ou Sarto, por exemplo.

Mas, e Wagner? Emmanuel Teófilo, cientista político, acredita que o político que já possui perfil conservador deverá se beneficiar ainda mais se Bolsonaro e o bolsonarismo estiverem em alta. "A tendência é de que o Capitão continue se aproximando, mas estabelecendo sempre pontos de divergência." Ele pondera, porém, que não é possível ser assertivo ao falar do processo eleitoral em Fortaleza, onde o cenário se mostra turvo.

O policial militar da reserva tem ainda de se preocupar com a segurança pública, segundo Monte. As guardas municipais são o braço que os municípios têm no tema, mas a questão fica majoritariamente a cargo do Estado, instância que, segundo diz o professor, tem atingido números com Camilo.

"Em alguns momentos, ela chegou a alavancar nomes como o de Moroni Torgan, com forte discurso de combate à criminalidade. Isso impulsiona a candidatura, mas ela morre no meio do caminho. Acredito que Wagner já percebeu isso, tanto que no mandato ele já trata de outros temas." Para o professor, a pauta central no debate será a da saúde e o 'gargalo' da Prefeitura é a gestão da saúde pública, atenção primária, medicamentos", cita.

Qual será o perfil da candidatura apoiada por Tasso?

No ano passado, Tasso apostou suas fichas no general quatro estrelas Guilherme Theóphilo e amargou derrota acachapante. Até reabrir diálogo com Ciro Gomes e Cid, com consequências na política ainda indefinidas, ele era visto como principal liderança de oposição no Ceará.

Na última disputa municipal, o tucano apoiou Capitão Wagner, nome que promoveria a "reformulação na maneira de fazer administração pública", como ele defendeu em inserções em rádio e televisão.

Quando esteve no Teatro São José em julho deste ano para lançamento de pacote de obras para Fortaleza, resultado de empréstimos e investimentos pelos quais trabalhou no Congresso, Tasso até cogitou uma aliança com o PDT desde que houvesse "convergência de projetos e ideias." Mais recentemente, se deixou fotografar com os irmãos Ferreira Gomes durante inauguração de Viaduto Beni Veras.

Na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), o único vereador tucano, Plácido Filho (PSDB), mantém alinhamento com o prefeito e, inclusive, compareceu a almoço oferecido na antevéspera de Natal pelo prefeito a integrantes da base.

Que perfil, então, teria a candidatura do tucano Carlos Matos à Prefeitura? Cleyton Monte lembra que o ex-deputado não tem conseguido força nem no próprio PSDB, já que o deputado federal Roberto Pessoa já direcionou apoio a Wagner. Além dos problemas internos, o PSDB nunca ganhou em Fortaleza. "Quando deputados federais do partido dão encaminhamento contra, você consegue perceber o tamanho do problema."

2912poli02
2912poli02

Lula, Bolsonaro e um debate nacionalizado

Longe do cárcere após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre aplicação de pena na segunda instância, o ex-presidente da Luiz Inácio Lula da Silva deverá interferir ativamente nos pleitos majoritários nordestinos, principalmente, onde o Partido dos Trabalhadores (PT) posicionará candidaturas. A avaliação é do professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira. 

"As pesquisas que tenho feito em várias cidades do Nordeste, inclusive capitais, mostram que é possível termos a nacionalização (do debate). O que isso significa? Candidatos verbalizando o nome de Lula e candidatos verbalizando o nome de Bolsonaro", explica. Se a força do petista prevalece especialmente no Nordeste, o professor indica superioridade bolsonarista no Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

A atuação de Lula contrariou expectativas, radicalizando menos do que se previa. Apesar disso, na avaliação do sociólogo e cientista político pela Universidade de Mackenzie (SP), Rodrigo Prando, Lula ainda tem condições de impor desconfortos a Bolsonaro e seguidores. "Mas, em contrapartida, outra face da moeda é aumentar o vigor e a força do bolsonarismo, que se construiu a partir de elemento de negação às esquerdas, ao PT e, em especial, ao presidente Lula", complementa o docente.(CH)

QUEM VAI LIDERAR

Roberto Cláudio (PDT)

Tem missão de concluir oitavo ano com gestão bem avaliada, tocando obras na Capital. Isso para impulsionar vitória de sucessor em Fortaleza. O cenário, contudo, não apresenta "candidato natural", definição que o pedetismo local deverá ter somente em meados de junho. Na relação de desafios, consta ainda uma oposição fortalecida na pré-candidatura do deputado federal Capitão Wagner (Pros). O político promete páreo duro em 2020. Neste ano, já convidou à disputa o próprio Ciro Gomes. Dentro da gestão de RC, um secretário se destaca - auxiliado neste aspecto pelo prefeito - e surge como possibilidade para a eleição: Samuel Dias, titular da Secretaria de Governo e ex-secretário de Infraestrutura. Fora da gestão, há José Sarto (PDT), atual presidente da Assembleia, posto já ocupado pelo chefe do Executivo municipal.

Cid Gomes (PDT)

Como as aspirações do irmão mais velho, Ciro Gomes, são nacionais (presidenciais, especificamente), é Cid Gomes que detém o status de líder do grupo político que governa governa Fortaleza e o Ceará. Para se dedicar inteiramente às tarefa de condução e articulação, e antevendo o nível de dificuldades políticas que 2020 apresentará, ele se licenciou do Senado Federal e assumiu oficialmente a presidência do PDT Ceará.

Camilo Santana (PT)

Na Assembleia Legislativa do Ceará (PT), o governador tem ampla base de 39 deputados. Muitos deles rivalizam nos municípios pela preferência do eleitor. Administrar estes confrontos, conforme o próprio governador já disse, é um dos desafios que o ano imporá. Além disso, recairá sobre ele a pressão de se definir entre dois dos vários lados da disputa na Capital. Ele é filiado ao PT, que terá candidatura em Fortaleza. Ao mesmo tempo, porém, é membro do grupo político de Ciro e Cid Gomes. O primeiro, inclusive, anda às turras com o PT, direcionando críticas à legenda e filiados sempre que pode.

Ciro Gomes (PDT)

Mostrar força eleitoral dentro de casa é imprescindível a quem quer galgar espaços maiores. Como quer subir a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de 2023, Ciro Gomes sabe que o início da caminhada começa em 2020, no Ceará, onde o PDT já é o maior partido e pretende expandir. Além de ser local onde ele mora, Fortaleza é a quinta maior capital do Brasil, o que confere ainda mais contornos de relevância ao pleito. Assim, ele também será voz importante em todo o processo de discussões que resultará na candidatura ao Paço Municipal.

Capitão Wagner (Pros)

É um policial militar da reserva quem, a preço de hoje, se destaca como principal dificuldade aos planos de todos os nomes já apresentados até aqui. Wagner tentará ser prefeito de Fortaleza pela segunda vez consecutiva. Anos antes, em 2016, levou a eleição para o segundo turno, quando perdeu para o reeleito Roberto Cláudio em páreo equilibrado. Para enfrentar a "máquina" (conforme o jargão político se aplica a quem ora ocupa o poder), o deputado federal quer unificar a oposição e, ainda no primeiro turno, já chegar com oito a nove partidos em sua aliança. Atualmente, tem Pros, Podemos, PSC e Avante. No radar, o PSDB de Carlos Matos e também o Solidariedade de Heitor Férrer, dois pré-candidatos.

Tasso Jereissati (PSDB)

Em 2018, o senador tentou direcionar a preferência do eleitor cearense ao general Guilherme Theophilo, então tucano, na disputa pelo Governo do Ceará. O militar perdeu para Camilo Santana, adversário reeleito com quase 80% dos votos. Já tido como principal liderança de oposição aos Ferreira Gomes, o tucano agora se permite fotografar ao lado da família. Retomou diálogo com Ciro e Cid Gomes. Apesar disso, o PSDB corre para lançar a candidatura do ex-deputado estadual Carlos Matos a prefeito da Capital. No período em que esteve na Assembleia Legislativa, Matos foi dos mais enfáticos opositores do governos Cid e Camilo. Há a possibilidade de o DEM estar na chapa, na vice. Viabilizar uma candidatura de oposição, mas nem tanto, é dos principais desafios no horizonte do empresário. Além disso, o ex-parlamentar não gera consenso interno. Roberto Pessoa, cacique da legenda em Maracanaú, já adiantou apoio a Wagner, por exemplo.

Jair Bolsonaro (Sem partido)

Ainda que a maior parte dos créditos sejam dados ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi a gestão do militar da reserva que conseguiu aprovar polêmica reforma previdenciária, amplamente debatida nas duas casas legislativas. Indo para o segundo ano de governo, Bolsonaro não poderá mais dizer que 2020 é ano de adaptação. A pressão por resultados consistentes, com isso, aumentará. Terá ainda de administrar eventuais danos que a investigação contra o senador Flávio Bolsonaro, seu filho, pode causar. Ele e a família foram eleitos com forte discurso anticorrupção.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

O ex-presidente está livre e isso altera o jogo político. Não tem direitos políticos, mas pode exercer militância política em favor dos candidatos às prefeituras, sobretudo nas capitais. A saída do líder petista da prisão, contudo, não foi incendiária como segmentos da população previam. A oposição a Bolsonaro ainda carece de mais unidade e articulação. Em 2020, Lula tentará recuperar danos eleitorais adquiridos pelo PT em 2016. De 630 prefeituras pelo País em 2012, caiu para 256 na última eleição municipal.

O que você achou desse conteúdo?