"Ainda é difícil ter acesso a esse tipo de conteúdo apenas partindo de uma simples busca pela palavra 'pornô'. Geralmente é um material marginal e pago, pois diferentemente do conteúdo mainstream - que é encontrado de maneira gratuita e com facilidade -, sua procura ainda não possui visibilidade suficiente para sustentar os custos de sua produção, principalmente no Brasil", contextualiza o performer e pesquisador Mario.
Mesmo com esse descompasso, há uma série de produtoras, do País e de fora, que disponibilizam conteúdos ao público interessado. "Algumas das principais referências sobre a temática pós-pornô são Erika Lust, que inaugura o termo 'pornô feminista' com filmes voltados para questões e desejos femininos sob o olhar de diferentes mulheres; a diversidade de gêneros e outros corpos, que abrem um campo político-estético muito bem representado pela AORTA Films; e a ruptura na narrativa visual-estética, com experimentações da sexualidade, trazidas pela vídeo-arte produzida por Vex Ashley, da Four Chambers", lista.
No Brasil, a XPlastic desponta como pioneira na produção alternativa de pornografia e há, ainda, a Fever Films, a qual Mario é ligado junto a nomes de performers já conhecidos no meio como DreadHot, Alemão, Emme White, Mia Linz, Nego Catra, Julie K e Lucas Ferreira. "Ambas tem a proposta de inovar o pornô tradicional, trazendo processos éticos e uma estética visual mais conceitual", explica, mas avisa: "o pós-pornô não se restringe a isso".
"É preciso ter cuidado para não achar que a pós-pornografia está apenas em filmes e performances (que são muito importantes, sem dúvidas), mas também no cotidiano das pessoas e coletivos que se recusam a serem taxados de anormais, feias, doentes", elucida a pesquisadora Juliana Justa. "Ela está muito ligada ao campo das performances e dos filmes, apesar de transbordar para outros tipos de manifestações, inclusive no cotidiano. Como exemplos nacionais, podemos citar a banda Solange, tô aberta!, o Coletivo Coyote, Bruna Kury e seu projeto PORNOPIRATA", exemplifica.
Mas quem são os consumidores dessa proposta? "É complicado falar em perfil de quem 'consome' pós-pornografia, mas acredito que pessoas/coletivos que buscam viver seus desejos, suas multiplicidades de corpos, raças, classes, diversidade funcional de formas outras que não estão atreladas aos padrões cisheteronormativos da pornografia mainstream", expõe Juliana. "O perfil de quem consome está intrinsecamente ligado aos desejos específicos desses grupos e pessoas que procuram uma pornografia mais consciente e engajada, que enxergam o sexo como um ato subversivo e de diversão", complementa Mario.