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"O que era brincadeira, se tornou algo sério", diz criador da página História no Paint
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"O que era brincadeira, se tornou algo sério", diz criador da página História no Paint

Estudante cria página nas redes sociais para ensinar História através de memes
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Leandro Marinho, estudante de história da UFRJ (Foto: ARQUIVO PESSOAL)
Foto: ARQUIVO PESSOAL Leandro Marinho, estudante de história da UFRJ

No país dos memes, não é surpresa que um jovem de 23 anos, morador de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, seja o protagonista de uma página que ensina fatos históricos de forma descontraída. História No Paint, como é conhecida a página nas redes sociais, foi criada por Leandro Marin, estudante do quinto semestre de História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Ao concluir o ensino médio, Leandro entrou em um dilema até chegar à ideia de fazer o História No Paint. Ele percebeu que, mesmo com os longos 15 anos dentro da escola, pouco sabia sobre os conteúdos que foram ensinados. Sem êxito ao prestar o Enem pela primeira vez, Leandro se deu conta que o ensino tradicional não o fazia compreender as disciplinas. Era necessário algo a mais. Assim surgiu a "metologia do século XXI", que utiliza a internet como fonte principal para os conteúdos produzidos.

O POVO: Em que momento você percebeu que utilizar memes era eficaz para chamar atenção dos estudantes para os fatos históricos?

Leandro Marin: Nas aulas de História, eu pegava algum tema, fundia com um meme só por zoação mesmo e mandava pra amigos e principalmente pra minha namorada — que na minha época não era minha namorada. Todo mundo achava graça e minha namorada me incentivava muito a criar algo, por exemplo um canal no YouTube, mas não era minha praia. Isso me levou a criar a página História No Paint — porque eu fazia os memes no Paint (tradicional ferramenta de desenho do Windows) mesmo — e era algo só pra gastar a onda mesmo. Hoje, a História No Paint tá com quase 800 mil seguidores no Facebook, tem 286 mil seguidores no Twitter e quase 200 mil no Instagram. No Twitter, os memes sempre viralizam, chegando com facilidade a 50 mil curtidas (o mais curtido teve 115 mil). O que era brincadeira se tornou algo sério.

OP: Além dessas redes sociais, como você tem percebido a expansão do História no Paint?
Leandro Marin: Hoje os memes são usados por professores em provas e slides pra explicar a matéria. Os alunos também se amarram. Usam em trabalhos e seminários: desde o ensino fundamental até o médio. Já existem artigos acadêmicos sobre a página... Não para por aí, eu resolvi usar meu alcance enorme para promover não só um "conhecimento raso", mas algo profundo e para isso eu criei o História No Cast: meu podcast de História, que está entre os 100 mais escutados do Spotify Brasil, no qual eu uso temas da cultura pop pra explicar termas da História, como por exemplo usar (a série) Game of Thrones pra explicar a Idade Média e o anime Attack On Titan (Shingeki no Kyojin) para ilustrar como funciona um governo fascista. Além disso, eu também sempre faço resenha de documentários, como a que viralizou, Menino 23.

OP: De que maneira você percebe que consegue aproximar fatos tão antigos com temas atuais? E por que é importante essa aproximação?
Leandro Marin: Normalmente a História mexe com assuntos que são completamente fora da nossa realidade. Vamos pegar por exemplo a Idade Média: nesse período as pessoas se comportavam de uma maneira totalmente diferente de hoje. Fica muito difícil passar pra um jovem essas ideias se você não usar um esboço atual para projetar a ideia. Eu falo isso porque no meu ensino fundamental eu odiava História, porque eu não conseguia entender o motivo para estudar aquilo. A intenção de usar o meme é justamente quebrar essa barreira para mostrar pro jovem que a História está presente no nosso cotidiano, que estudar História pode ser legal e que existem outras maneiras de estudar. Acho que também a questão principal é que você se aproxima do aluno com o meme. Eu mesmo, no meu período escolar, tinha uma visão de que o professor era alguém "chato", porque eu só o via quando ele estava dando aula sobre algo "chato". Então, usar o meme também é mostrar para os jovens em geral que o professor também vive no mesmo mundo que ele: gosta de piadas, de se divertir e que ele não é um robô que só sabe dar aulas e passar provas. Em síntese, a importância do meme nesse sentido é ilustrar ideias antigas com esboços atuais do cotidiano do alunos.

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