No dia 16 de março, o empresário e triatleta David Pontes, 41, acordou ofegante, com forte dor de cabeça, febre, dor no corpo e tosse. Inicialmente, pensou ser resultado do esforço físico feito em domingo anterior, quando participou de uma corrida de montanha. Foram 26 km subindo a serra de Maranguape. Ele ligou, então, para um amigo, também atleta, e ouviu relato dos mesmos sintomas. Nos treinamentos, ambos tiveram contato com pessoas que não sabiam que tinham contraído a Covid-19 em uma festa de casamento.
No mesmo dia, David ligou para o irmão, que é médico, descreveu o que estava sentindo e recebeu recomendação de ficar em isolamento. O resultado que atestou a doença só foi recebido por volta do 13º dia após o início das queixas. Na última segunda-feira, 6, o atleta já estava há mais de 20 dias sem ver o filho, Levi, 9, a namorada, os pais e os irmãos. Durante dez dias, ele sentiu todos os sintomas da Covid-19. "Da mesma forma que acordei doente, eu amanheci bom", conta.
A febre do primeiro dia foi e voltou, e o empresário fez uma tomografia dos pulmões. A falta de ar e a febre continuavam. Cinco dias depois, fez outro exame de imagem, que mostrou o comprometimento de parte dos pulmões. Foi então que David ficou internado. "Mas a minha saturação estava boa, eu estava respirando bem. Fui pela manhã, dormi e fui embora no outro dia. Na sexta-feira, 3, já não estava mais sentindo nada de cansaço, nada de dor."
Maratonista, David imaginava que o preparo físico iria poupá-lo dos efeitos do novo coronavírus. Ele pensava que seria "só uma gripezinha", mas estava enganado. "Eu já fiz maratona de 60 km, já fiz Iron Man, e todo mundo dizia: 'Ele nunca vai pegar, e se pegar não vai ter problema'. Eu confiava nisso também, mas realmente me pegou e eu sofri bastante. E me deu medo", relata.
A Covid-19 vai além dos sintomas físicos e afeta também o psicológico dos pacientes. A necessidade de isolamento, sem poder ver e abraçar o filho ou se encontrar com outros familiares e amigos, deixou David "muito fragilizado". "A sua rotina muda completamente." A experiência, porém, tem um lado positivo para ele. "Acredito que todo ônus tem um bônus, e o meu foi dar mais valor à minha vida, às pequenas coisas, aos pequenos momentos que passam despercebidos."
A esperança de David é que, após a pandemia, o mundo torne-se "bem melhor". "Começando pela minha parte. Eu acredito que vou ser bem melhor." Ele frisa, ainda, a importância da população ter consciência e ficar em casa durante o atual momento. "Como empresário, realmente estou sentindo na pele essa quarentena, que estamos obrigados a fechar. Mas eu tenho convicção de que é necessária, senão vai ser muito devastador." (Gabriela Custódio)