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Ressignificar valores
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Ressignificar valores

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FORTALEZA-CE, BRASIL, 09-04-2020: Roberta Fiúza, cantora, pegou a COVID-19  e se curou. Pessoas que se curaram de COVID-19, reportagem DOM. (Foto: Júlio Caesar / O Povo) DOM 12.04 (Foto: JULIO CAESAR)
Foto: JULIO CAESAR FORTALEZA-CE, BRASIL, 09-04-2020: Roberta Fiúza, cantora, pegou a COVID-19 e se curou. Pessoas que se curaram de COVID-19, reportagem DOM. (Foto: Júlio Caesar / O Povo) DOM 12.04

Febril, com um cansaço forasteiro, como o que é estranho à terra onde se encontra, o corpo de Roberta Fiúza falou, moendo-se de dor. "Uma quebradeira no corpo muito grande", e incomparável. De repente, viu sua saúde quebrar-se em partes tão íntimas que só a cantora, independente que é, na carreira e vida pessoal, poderia ouvi-la. E ouviu. Mesmo não dando importância ao que de cara poderia ser, ao mesmo tempo, contrariando-se, temendo estar com a doença, resolveu atendê-la. Foi sozinha ao hospital cuidar-se. Antes, comunicou a uma amiga próxima que a ajudou em tudo. Fez até companhia à única moradora do endereço de Roberta além dela, a cachorrinha que ficou, enquanto sua tutora ainda descrente do impacto do coronavírus - talvez uma indisposição forte mas qualquer -, imaginava voltar logo. Não voltou.

O tempo rápido para um exame acabou exigindo mais, dela e equipe médica. "A minha ficha realmente foi caindo… Porque eu cheguei no hospital muito consciente de que eu ia fazer só o exame, a imagem (do pulmão), e ir embora", lembra-se hoje vitoriosa do tempo que passou internada, pouco mais de cinco dias durante o mês de março. "A primeira lição que fica, antes do renascimento, é o ressignificar de valores pessoais para com nós mesmos", destaca Roberta, que passou a (re)considerar tudo a sua volta, para o que realmente vale a pena. "O dizer não para tantas coisas que a gente ainda deixa que permeiam em nossas vidas e nos adoecem", cita. A atitude de ir sozinha ao auxílio do socorro não foi só porque tinha como ir e é grata por isso. "As pessoas precisam ser mais conscientes", optou pelo bem estar coletivo, de amigos e família, incluindo a irmã, que é asmática. Nem mesmo em casa, para cumprir a quarentena, ela deixou de pensar diferente. Disse sim ao convite do Festival #ficaemcasa.ce conectando fãs em sua rede social para alguns minutos, segundo ela, de soma a distância. "Precisava do que sempre me salvou que é a música", segue em seu processo de recuperação da doença. "O meu cantar não vai ser mais o mesmo, assim como as minhas projeções de futuro, elas todas mudaram. A partir dos valores, no meio do caos, você descobre realmente o que é o afeto. São valores pessoais postos à prova e nada continua. A música do Milton fala: 'Sei que nada será como antes mesmo",diz. (Jully Lourenço)

 

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