"A gente ganhou uma nova chance de vida." É assim que a gerente editorial Patrícia Ferreira da Costa compreende o fato de ter contraído o novo coronavírus junto da mãe, Francisca Monteiro, e da irmã, Michelle. As três moram juntas em um apartamento no bairro Meireles e começaram a apresentar sintomas da Covid-19 na noite do dia 18 de março. No fim de semana anterior, elas haviam viajado junto a um primo para o enterro do avô, pai de dona Francisca, em Crateús. Ainda durante a viagem, ele teve tosse e febre, mas "diante da comoção familiar e de uma gripe mal curada" não levantaram suspeita de que pudesse ser a nova doença.
"Quarta à noite, eu e minha irmã apresentamos febre. Na quinta, minha mãe apresentou febre e muita tosse", conta. Levada à emergência hospitalar, a aposentada foi logo atendida e testada para a Covid-19 porque, além de ter 69 anos, é diabética e hipertensa.
"Quando a gente se deu conta do que estava acontecendo, foi a parte mais desesperadora." Michelle também foi testada. Já Patrícia, por ter plano de saúde diferente, precisou ir à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Praia do Futuro, à do Edson Queiroz e à emergência de seu convênio até conseguir um exame de sangue e uma tomografia do pulmão. "Já tinha a certeza, mas precisava ter essa confirmação e fazer parte dos números oficiais."
Enquanto as irmãs tiveram febre, dor de cabeça, cansaço e fraqueza, a mãe teve sintomas mais intensos e diarreia. Ainda assim, nenhuma precisou de internação. "Éramos três mulheres dentro de uma casa onde a gente não conseguia fazer nada, pelo cansaço físico e pelo medo. Nosso maior medo foi perder a mamãe", relembra Patrícia. "Mas a gente não podia demonstrar. Ela já estava preocupada com a gente e em luto." Aos 41 e aos 37 anos, as irmãs choravam escondido.
Nesse momento, uma "corrente de bem e de amor familiar" foi essencial. Sempre alguém preparava almoço ou jantar e deixava na portaria do condomínio onde moram. Alguns parentes que são médicos monitoravam os sintomas e aconselhavam durante o isolamento. Hoje, já recuperadas, Patrícia evita ver jornais e redes sociais porque lhe dói ver informações e algumas colocações das pessoas. "Essa doença abala o físico, mas principalmente o mental", afirma. "É muito difícil passar por uma doença em uma casa onde todo mundo pegou e se alguém entrar pode pegar também. Mas é muito reconfortante saber que, mesmo de longe, você conta com amigos e familiares que se preocupam com você, que rezam por você e dão um jeito de lhe ajudar."
Ela, que é católica, sente que ter passado pelo coronavírus no período de Páscoa foi viver um renascimento. "Nada será igual. Eu espero que as pessoas saiam disso mudadas e valorizando o que a gente tem de mais importante: a vida. Que mais pessoas possam comemorar o fato de vencer essa doença tão sem piedade", deseja. (Marcela Tosi)