A crise do novo coronavírus (Covid-19) pressionou a reconfiguração dos processos e estruturas corporativas em pouco tempo. Há cerca de dois meses, os planos antes considerados futuristas saíram das pesquisas e slides de reuniões das grandes corporações para serem colocados em prática em negócios de todos os tamanhos espalhados pelo Brasil.
Ainda incerto, o mundo pós-pandemia dá sinais nos redesenhos abruptos de agora, com experiências imersivas dos espaços públicos hoje inabitados, trabalho remoto, educação a distância etc. O que mudará então para as empresas? Cada setor econômico passará por transformações e, guardadas as devidas proporções, quase ninguém sairá ileso.
Segundo um estudo da consultoria Bain & Company, a mudança começa pelo consumidor que prioriza as compras chamadas de "pânico", para a preparação de desastres, como desinfetantes, máscaras, refeições instantâneas e suprimentos médicos. Na outra ponta, produtos não essenciais e de luxo, como cosméticos, confeitaria e bebidas alcoólicas têm declínio da demanda.
O professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FVG), Mauro Rochlin, explica que, após a crise sanitária, alguns segmentos não serão impactados, ainda que hoje enfrentem dificuldades de abastecimento. "Não haverá mais gargalos de produção. O que a gente observa vai deixar de existir, e eles estarão voltando à normalidade", diz, apontando como exemplos supermercados, farmácias, indústrias de alimentos, lacticínios e carnes processadas.
Em contrapartida, companhias aéreas e rodoviárias, os setores de eventos, turismo, eletrodomésticos, automobilístico, confecção, calçados, construção civil, bares e restaurantes devem ter uma trajetória mais longa. "Eles serão os últimos a experimentar uma retomada. Alguns, como o turismo, estão sem previsão até que se tenha uma vacina", avalia.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que são necessários cerca de 18 meses para uma imunização contra a Covid-19. Enquanto isso, alguns modelos empresariais devem adotar o home office de forma integral ou parcial neste novo cenário do mercado.
"Perdeu o sentido falar de escritórios de advocacia, contabilidade, corretagem, arquitetura ou outro quando isso pode ser feito perfeitamente de forma virtual. Essa realidade vai mudar em curto prazo", acredita. A área da educação também deve sofrer grandes adequações.
Não necessariamente será apenas o chamado ensino a distância, mas deve ocorrer um aprimoramento para maior interação entre alunos e professores simultaneamente, reduzindo as atuais grandes estruturas físicas para universidades e escolas.
Para a diretora de produto da aceleradora de negócios Troposlab, Renata Horta, os empreendimentos deverão se adaptar rapidamente. "Einstein já dizia que uma mente que se abre para o novo nunca mais retorna ao seu tamanho original. Eu tenho usado essa frase muito intensamente nestes últimos dias, porque as pessoas estão se abrindo para o novo, elas estão abrindo suas casas para o uso da tecnologia, para a entrada da empresa, para a entrada da escola", observa.
A partir do momento em que se começa a usar mais canais digitais para vendas e entregas, é preciso repensar em processos e infraestruturas que antes ou não existiam ou eram frágeis. "Temos aí a incorporação de competências tecnológicas relevantes que vão mudar as empresas, achatando suas estruturas e mudando o padrão de decisão", aponta.
Nesse contexto, cadeias inteiras devem ser modificadas. Para os segmentos de eventos, turismo e alimentação fora de casa, pondera, haverá diversas transições de acordo com o avanço da cura da doença. "Se a gente tiver mais dificuldade de encontrar uma vacina ou um remédio para esse vírus, o isolamento continua. Assim teremos uma economia de menos contato, ela vai se estabelecer e os momentos dedicados a esse contato vão ser menos frequentes para cada um", analisa.
Teatros, bares, restaurantes e eventos deverão funcionar de outras formas, com o afastamento de mesas e destaque para estabelecimentos menores. "Fala-se, por exemplo, de robotização no atendimento das mesas dos restaurantes, muitos desses negócios também vão precisar incorporar a tecnologia e renascer pensando nesse novo ambiente de mundo pós-pandemia, ainda com pouco contato físico", projeta.
Novos rumos
O isolamento provocou novos hábitos e comportamentos no universo corporativo. Foram revistas as necessidades de manutenção ou atualização dos processos de trabalho. A crise coloca à prova a nossa resiliência e a capacidade de nos reinventar. Agora o empresário tem duas escolhas: esperar passar a crise para pensar nos rumos para seu negócio ou começar a agir. Essas escolhas definirão qual a empresa que você terá depois da Covid19.
Se você quer um retorno rápido ao topo, o planejamento para pós-pandemia começa agora. Como a sua empresa se posiciona ante o atual cenário vai reverberar quando o cenário econômico se normalizar.
Por isso, reinvente o seu negócio. De que forma você pode estar ativo agora? O serviço pode ser oferecido online? Estruture as ações para gerar caixa agora, afinal, é preciso se manter para voltar com força total.
Escolha produtos ou serviços para os quais você pode gerar caixa por meio de algum tipo de promoção. Você não terá um lucro grande, mas fortalecerá o caixa até que a tormenta passe, evitando ter de pagar juros.
Reorganize as metas. Não adianta esperar um cenário positivo para isso. Monte um grupo de gerenciamento de crise, faça um novo planejamento, pelos próximos três meses e reavalie semanalmente.
Não se acanhe em pedir ajuda. Com futuro incerto, com certeza você vai precisar de ajuda, principalmente de profissionais que ofereçam clareza ao seu planejamento estratégico. Mas cuidado com as promessas de soluções fáceis. Elas não existem, por isso muita cautela. Sabendo aplicar alguns desses pontos, com certeza logo logo sua empresa estará de volta e conquistando bons resultados, quem sabe até mais rápido do que se você tivesse esperado o cenário melhorar para planejar.