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Compositor cearense tem música escolhida pela ONU para combate à Covid-19
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Compositor cearense tem música escolhida pela ONU para combate à Covid-19

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Wesdley Vasconcelos (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Wesdley Vasconcelos

Uma boa combinação de letra e melodia é capaz de nos levar a muitos lugares e também de nos trazer os mais variados sentimentos. Vivendo de música, o cearense compositor e multi-intrumentatista Wesdley Vasconcelos, idealizador do projeto Fábrica de Canções, sabe bem disso e resolveu utilizar-se dessa arte para auxiliar o mundo na propagação de uma mensagem precisa durante essa pandemia.

Fica em casa é o que ele canta. É um conselho direto, mas preciso. Tão preciso que a canção foi selecionada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para auxiliar em campanhas contra o coronavírus por toda a América Latina, e está disponível em todas as plataformas de música online. Em entrevista ao O POVO, o cantor expõe os processos de composição e inspiração em meio ao período de isolamento social.

O POVO - Como foi o processo de composição da música Fica em Casa?

Wesdley Vasconcelos - Assim que a quarentena começou, eu fui tomado por um choque. Acredito que todo mundo. Além de ficar em casa, me pus a observar as pessoas ao meu redor, as relações se reconfigurando, de que forma a gente ia conseguir manter nossas relações afetivas. Após essa observação, que durou alguns dias, me senti no desejo criativo e na responsabilidade de fazer algo que representasse esse momento que todos estão vivendo. Eu não posso ver meus pais, eles são do grupo de risco, e tem muita gente nessa situação, então eu pensei em fazer uma canção em que o ato de não encontrar servisse como uma demonstração de amor e esse foi meu mote. Além disso, coloquei uma pitada de oralidade cearense para causar identificação, até porque, é o jeito que a gente fala, mas no fim das contas, a ideia é que seja não só uma mensagem afetiva, mas também de conscientização. Por isso que fui tão explícito com o “Fica em casa”. A gente ouve tanta desinformação, seja via Whatsapp ou mesmo pelas autoridades, sobre o que devemos fazer, que eu quis ser bem claro: é para ficar em casa mesmo.  

OP - Como a canção foi parar na ONU?

Wesdley - A ONU abriu uma convocatória em março para que artistas enviassem seus trabalhos, de qualquer expressão artística, para propagar mensagens de combate à pandemia. Eles colocaram seis pontos para serem abordados: higiene pessoal, conhecimento dos sintomas, solidariedade, distância física, não espalhe boatos e espalhe bondade. São seis caminhos que eles entendem que pode ajudar a humanidade a passar pelo que estamos passando. Inscrevi a canção na categoria de distanciamento físico por conta da mensagem da canção. A música foi aprovada e direcionada para o público da América Latina. Agora faz parte de um grande banco de dados de obras. Tem muita pouca coisa em português e, para mim, foi uma grande honra ver minha música nesse hall de obras com esse intuito.

OP - De que sentimentos devemos nos cercar durante essa quarentena?

Wesdley - O papel da arte é de despertar sentimentos nas pessoas. Nessa canção, em especial, embora a palavra não seja pronunciada, o sentimento é de esperança. Apesar de estarmos passando por um momento tão difícil na história da humanidade, de ver tantas vidas perdidas pela doença, a gente tem esperança em um futuro melhor, cuidar da nossa sociedade, de quem a gente gosta, para que, no final disso tudo, possamos ficar juntos e desenvolvermos essas relações afetivas que ficaram em suspenso fisicamente.

OP - Como você começou dentro dessa arte?

Wesdley - Comecei na música na adolescência, colaborando com grupos de artistas. Toco contrabaixo, teclado e sempre atuei como membro de bandas, fosse de rock ou de música regional, como a Eletrocactus, com a qual estou hoje. Nos últimos anos comecei a aperfeiçoar meu trabalho como compositor. Escrevi para festivais, as canções foram avançando, ganhando prêmios. Criei jingles publicitários, músicas institucionais e hoje meu trabalho se baseia no projeto fábrica de canções, com o qual eu crio canções personalizadas baseadas nas histórias de vida das pessoas. A pessoa me conta sua história nos mínimos detalhes, eu tomo aquilo como inspiração e crio canções exclusivas, inéditas, tudo original para emocionar as pessoas e servir de uma criação de memória afetiva para as pessoas.

OP - E quem são suas inspirações hoje para você criar suas composições?

Wesdley - Hoje, posso dizer que a maior inspiração que eu tenho para criar canções são as pessoas que tem contato comigo. A história de vida das pessoas é minha maior força motriz de inspiração. Quando a pessoa me procura para compor, ela traz consigo as suas preferências musicais e eu acabo me inspirando nelas. No entanto, como artista, me espelho muito nos grandes da MPB, que para mim são: Chico Buarque, Caetano Veloso e mais recentemente Lenine. São três linhas de construção artística, por meio dessa forma de expressão chamada canção, com a qual me identifico e tento me aproximar, porém, colocando meu estilo, na medida do possível, sempre os observando como uma referência afetiva e criativa. 

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