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Bibliotecas capazes de mudar a realidade
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Bibliotecas capazes de mudar a realidade

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Talles iniciou sua carreira em blogs e hoje faz parte da editoria Substânsia.  (Foto: FÁBIO LIMA/O POVO)
Foto: FÁBIO LIMA/O POVO Talles iniciou sua carreira em blogs e hoje faz parte da editoria Substânsia.

Desde o início do isolamento social, toda a dinâmica cultural de Fortaleza também foi afetada. Entre as diversas ações e projetos, estão os chamados livros livres e as bibliotecas independentes. Importantes para a construção social, os livros são uma forma de pensar outras realidades e as iniciativas de produtores como Talles Azigon fazem parte do processo.

Talles é poeta, editor, mediador de leitura e leitor. E foi sendo leitor que transformou parte do salão de beleza de sua mãe, Rita Cássia, na biblioteca comunitária do Curió. A partir dali, o bairro conhecido pela chacina se mobiliza pela leitura e por atividades culturais oferecidas no espaço. Em entrevista ao O POVO, o produtor cultural conta sobre sua experiência.

O POVO - O projeto Livro Livre Curió completou dois anos de existência em 2020, certo? Mas o que é um livro livre?

Talles Azigon - É um movimento internacional que acontece de modos diferentes no mundo. A filosofia é de partilhar algo que você já fez uso para que alguém tenha oportunidade de usufruir também. No Ceará, o movimento veio através de Anitta Moura e foi se sofisticado até alcançar o formato de Biblioteca Comunitária no Curió, sem cadastro, sem prazo de devolução definido, uma biblioteca baseada no enraizamento comunitário e no conceito que tudo é de todos sem precisar de policiamentos.

OP - O que o levou a estabelecer uma relação próxima com os livros e a querer levá-la para a comunidade dessa maneira?

Talles - Os livros apareceram na minha vida como uma novidade, um objeto que não tinha relação com o meu mundo, mas que fazia total sentido. Era a continuidade de um universo maravilhoso de histórias, como as histórias que minha vó contava, como as histórias contadas nas músicas que tocavam no bar da minha vó. Quando resolvi fazer uma biblioteca na comunidade, apenas continuei meu compromisso político de agir no mundo diretamente. Acredito na ação direta, no apoio mútuo e na autogestão.

OP - Qual a importância de projetos de troca ou compartilhamento comunitário de livros?

Talles - Toda desigualdade social é sustentada por uma desigualdade de conhecimento, de informações, de cultura. Fortaleza é uma cidade extremamente desigual e que faz pouco para aplacar esta realidade. O que nossas bibliotecas fazem é mudar a realidade onde elas se localizam, mesmo sem apoio governamental.

OP - Durante esse momento de pandemia da Covid-19 e do necessário isolamento social, as pessoas estão buscando as bibliotecas? Como a literatura comunitária está sendo mantida?

Talles - Em cada bairro as bibliotecas têm tido atuação estratégica, tanto na disseminação de informações, quanto de apoio às famílias e redistribuição de doações. Existe muita confiança no trabalho que desenvolvemos. Pedidos de indicações de leitura também são recorrentes, desde antes da pandemia, mas agora chegam até por SMS. Ao mesmo tempo criamos uma revista digital, a Coletiva.

OP - Atualmente, pelo menos nove bibliotecas comunitárias estão passando por dificuldades financeiras e podem fechar as portas. O que cada um que se interesse pode fazer para que elas permaneçam e se multipliquem?

Talles - Neste momento apoiar financeiramente é o que precisamos. Estamos com uma campanha online para que as bibliotecas comunitárias não fechem as portas por causa da pandemia.

 

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