A Covid-19 ainda é uma doença muito nova para todos, incluindo os estudiosos da área da saúde. Afinal, passaram-se quase sete meses desde o primeiro contágio em Wuhan, na China, em 17 de novembro de 2019, e esse tempo é pouco quando se fala em pesquisas e descobertas em medicina. Porém, já se percebeu em todo o mundo que as complicações da doença em crianças são menos frequentes do que nos adultos.
Geralmente, os mais jovens têm sintomas leves ou permanecem assintomáticos. E, quando os sinais estão presentes, a frequência deles é menor em crianças do que em adultos, explica Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Dor de garganta, tosse seca e manifestações gastrointestinais leves, por exemplo, são observadas em cerca de 10% das crianças, de acordo com o médico. "É um quadro que, de forma geral, tem menos sintomas, de duração mais curta e de melhor
evolução", afirma.
Alguns sinais que podem ser manifestados nos jovens, além de diarreia e tosse, são febre e coriza. "Portanto, muito inespecíficos, pois são bem comuns também em outras doenças infecciosas na criança", aponta Robério Leite, coordenador do departamento científico de infectologia da Sociedade Cearense de Pediatria (Socep) e professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Conforme explicam os médicos, ainda não há clareza sobre a existência de grupos de risco para a Covid-19 entre as crianças. "O diabetes tipo 2 em adultos é claramente um grupo de risco, (mas) até o momento não há clareza em relação ao diabetes da criança, o tipo 1, e não temos dados que mostram que seja um fator de risco", exemplifica Marco Aurélio Sáfadi.
De acordo com ele, o único fator já identificado, principalmente entre adolescentes e jovens, é a obesidade. No geral, trabalha-se então supondo que os fatores de risco para adultos se repitam em crianças. "Ou seja: quadros neurológicos que fazem essas crianças terem mais riscos, doenças cardiovasculares e doenças
pulmonares crônicas."
A asma, segundo o médico, é "uma incógnita" e segue sendo investigada, uma vez que há dados conflitantes. "Crianças abaixo de um ano de idade, com doenças respiratórias e cardíacas crônicas, diabetes, deficiência da imunidade e obesas devem sempre merecer atenção especial", acrescenta Leite.
Apesar de na maioria dos casos a evolução da doença ser favorável, também pode haver complicações. Dessa forma, é indicado que os pais ou responsáveis estejam atentos para buscar atendimento médico quando for necessário. É o caso de quando a criança tem febre intensa por mais de três dias, diarreia intensa acompanhada de vômito, respiração mais acelerada ou com esforço, fica abatida, desidrata, recusa completamente a alimentação e tem gemidos ou dor
intensa e persistente.
Nesses casos, a indicação de Robério Leite é buscar uma emergência. "Com o recurso do teleatendimento, hoje é possível e recomendável, ainda com sintomas mais leves, que se consulte o médico. Crianças com problemas crônicos de saúde não devem deixar de seguir o acompanhamento médico",
complementa.
Um ponto levantado por Sáfadi é a procura tardia por atendimento, tanto em casos de Covid-19 quanto de outras doenças, pelo medo de ir ao hospital. Assim, ele aconselha que os pais busquem um profissional sempre que houver sintomas que os preocupem. "Às vezes não são esses sintomas clássicos, mas, uma vez que a presença do sintoma preocupa — e os pais têm muito essa sensatez —, se deixa a criança com comprometimento do estado geral, altera o bem-estar de forma a preocupar os pais, eles não devem deixar de procurar atendimento médico."