A internet e especialmente as redes sociais tornaram-se ferramentas importantes para o movimento feminista. Com elas, as mulheres ganharam um novo espaço para divulgar o próprio conteúdo, compartilhar as próprias vivências e se unir a outras mulheres nos mais diversos locais do mundo. Por meio dessas redes, inúmeros casos de assédio sexual, estupros e outras violências são denunciados pelas vítimas.
Por meio da hashtag — palavra-chave utilizadas para indexar publicações sobre um mesmo assunto — #MeToo, atrizes de Hollywood e mulheres anônimas de todo o mundo falaram sobre agressões sofridas, em resposta às denúncias contra o poderoso executivo Harvey Weinstein, em 2017. No Brasil, utilizando a #PrimeiroAssédio, as usuárias compartilharam a primeira vez em que sofreram a agressão, em resposta a comentários de cunho sexual sobre uma menina de 12 anos participante de um reality show de culinária. E esses são apenas alguns casos.
Esses movimentos são "essenciais", segundo Maria Conceição Costa, articuladora do Nordeste da Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) (ANPSINEP). O relato de uma vítima, de acordo com a psicóloga, faz outras mulheres sentirem-se autorizadas a falar sobre os próprios casos ao descobrirem que não estão sozinhas. "Nós precisamos falar sobre o que nos afeta como agressão. E, quando uma mulher fala, ela dá força para que outras mulheres falem", pontua.
"Os movimentos de hashtag permitiram que as mulheres se sentissem à vontade, que elas pudessem ver que era possível falar sobre suas experiências, que elas podiam retomar a força e a autonomia das suas próprias histórias e que elas podiam se encontrar em uma unidade de acolhimento", complementa Juliana de Faria, diretora da organização não-governamental (ONG) Think Olga. De acordo com ela, as discussões inicialmente online refletem-se em conversas off-line, na imprensa e impactam até as culturas organizacionais.
Dessa forma, a denúncia é "uma atitude social importante", segundo Alice Bianchini, vice-presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada (CNMA) e da Associação Brasileira de Mulheres de Carreiras Jurídicas (ABMCJ). Denunciar vai "salvar que outras mulheres também sejam vítimas". Ela destaca que o recomendado, porém, é realizar uma denúncia formal. (Gabriela Custódio)