O sucesso foi tanto, que o estoque esgotou. A Ubutun - Bonecas Negras, há cerca de um ano, vem fazendo sua fabricação de bonecas inspirada no lema "para cada criança negra, uma boneca negra". Os idealizadores são o casal Joseane Nogueira, 33, e Corneille Midokpe, 30, mas a grande inspiração para tudo acontecer é filha dos dois, Nádia, de oito meses.
Ir à loja de brinquedos e não encontrar uma boneca negra, que pudesse fazer a filha se sentir representada, foi o pontapé de tudo. Em conversa com O POVO, Joseane, que é arte-educadora e responsável pelo processo criativo das bonecas, acompanhada do marido, de nacionalidade beninense e estudante de Engenharia - agora seu braço direito - falaram sobre essa trajetória. E, antes de tudo, eles já adiantam que a nova coleção está sendo preparada para ser lançada em breve, com todas as informações no Instagram @ubutunbonecasnegras.
O POVO: Como nasceu a Ubuntu Bonecas? Quais os objetivos da marca?
Joseane Nogueira e Corneille Midokpe: Após a descoberta de que seríamos pais de uma menina, surgiram as preocupações referentes à sua criação, infância e seu desenvolvimento dentro de uma sociedade não igualitária. Assim criamos a Ubuntu, pensando em darmos a nossa filha um universo de representatividade, mas também, em proporcionarmos isso a outras crianças do País. Nosso lema é: para cada criança negra, uma boneca negra.
OP: Como vocês enxergam o engajamento social nessa causa?
Joseane e Corneille: Criar a Ubuntu bonecas negras está carregado de uma causa social e ela é nobre. As crianças não nascem preconceituosas. Assim se formam, pela família, mídia e sociedade. A Ubuntu - Bonecas Negras é um presente às mulheres negras que nunca tiveram uma boneca igual a si; um alerta às famílias de todas as etnias que existe algo diferente para ser ofertado a seus filhos; e parte da luta de que as crianças negras de hoje não merecem viver os mesmos constrangimentos que viveram seus pais.
O efeito positivo do lançamento da Ubuntu não foi algo que nos surpreendeu. Já esperávamos a receptividade, devido ao fato de sabermos que praticamente não existem bonecas negras no País, mesmo com mais da metade da população sendo afro-brasileira.
OP: Lançar uma marca no mercado é difícil, por muitas razões. Vocês passaram e ainda passam por dificuldades no negócio?
Joseane e Corneille: Lançar uma marca que envolva a causa social negra é desafiadora. O espaço para revenda em lojas, shoppings e meios comerciais ainda é muito fechado para estas propostas.
OP: Joseane, como mãe e, de certa forma, ativista nessa luta, que mensagem você gostaria de passar para o público?
Joseane: Como mãe, que tudo faço para a felicidade de minha filha, compartilho com vocês mães e pais, desta luta, para que possamos construir um País e um mundo seguro, igualitário e sem opressões para que nossos filhos possam crescer saudáveis, felizes e que possam realizar todos os seus sonhos. A luta pela igualdade racial é de responsabilidade de todos os brasileiros!