Medo de ser exposta e, o pior, desacreditada. A negação para si mesma de que o assédio tenha ocorrido. O julgamento de si própria por ter deixado o crime acontecer. A falta de um ambiente acolhedor nas autoridades e até mesmo na própria família para falar sobre o ocorrido. Estes são apenas alguns dos motivos que fazem com que muitas meninas e mulheres tenham receio de expor situações e agressores de assédio e abuso sexual sofrido por elas.
"Um dos primeiros entraves é saber reconhecer que houve o crime, pois é difícil para muitas pessoas diferenciar o que é assédio e o que é paquera. A sociedade estabeleceu papéis diferentes para homens e mulheres, principalmente no que diz respeito à sexualidade e reprodução. A sexualidade é mais aceita para os homens, por isso que é comum ouvir 'é coisa de homem', 'homem é assim mesmo' em relação a essas situações, e isso vai inibindo as mulheres porque pensam que é natural o homem ser assediador", explica Sarah Dayanna Lima, doutorando em Direito e professora de Direito Internacional da Universidade Estácio de Sá.
"Soube, por intermédio de alunas que estão auxiliando adolescentes do #exposedfortal, que estas não falaram para os pais sobre o assédio que sofreram. Por isso a baixa quantidade de boletins de ocorrência registrados nas delegacias, mesmo depois da repercussão. Só que como elas são menores de idade, os pais é que devem representar as filhas nas ações penais. Isso é outro entrave: elas não tinham coragem de contar aos pais porque, via de regra, os assuntos sexuais não são debatidos em casa com as meninas", destaca.
A advogada e socióloga Giovana Santiago fez uma pesquisa de mestrado sobre o assédio de rua e aponta que o receio de ser julgada faz a vítima não denunciar. "As pessoas têm vergonha de contar para os familiares e amigos porque a sociedade é machista e tenta jogar para a vítima a culpa do crime que sofreu, principalmente os de cunho sexual. É o caso clássico da pessoa perguntar: 'você estava com que roupa? Por que estava em tal local e em tal hora? Esses questionamentos são muito comuns, não só por parte das autoridades policiais não treinadas como pela sociedade como um todo", afirma.
"Além desses fatores, tem todo o desgaste emocional que um crime desse tipo causa na vítima. Muitas levam anos para identificar se aquilo que passaram era assédio mesmo. Depois, com a maturidade, leituras e convivência com outras mulheres e o conhecimento de relatos, é que muitas vão entender que passaram por isso de fato." (Flávia Oliveira)